“Tratem o mal com o bem”




“Afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e procure segui-la. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e seus ouvidos estão atentos à prece deles. Mas o rosto do Senhor se volta contra os que praticam o mal” (1Pd 3,11-12)

O que geralmente encontramos diante dos nossos olhos hoje? Que realidade podemos observar em todos os recantos do globo terrestre, senão, numa primeira leitura, algo desanimador e desesperador?

A fotografia que tiramos do mundo em que vivemos é sem cor, sem brilho e cheia de cenas aterrorizantes e atemorizantes. São as mazelas do mundo.

No tempo da vinda de Jesus e nascimento da Igreja não era muito diferente: “Os homens desprezaram o conhecimento de Deus; por isso, Deus os abandonou ao sabor de uma mente incapaz de julgar. Desse modo, eles fazem o que não deveriam fazer: estão cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, avidez e malícia; cheios de inveja, homicídio, rixas, fraudes e malvadezas; são difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, fanfarrões, engenhosos no mal, rebeldes para com os pais, insensatos, desleais, gente sem coração e sem misericórdia” (Rm 1,28-31).

De lá para cá pouca coisa mudou. Mudaram as formas de violências e depravações, mas não aquilo que as impulsiona: a maldade humana. E a maldade humana surge justamente quando o homem, usufruindo do seu livre arbítrio, afasta-se de Deus. A regra é simples.

Quando passamos a fazer uma reflexão desta realidade nasce em nosso coração e brota do nosso consciente outras interrogações, tais como: onde vamos chegar? O que fazer? Como cristãos qual deve ser a nossa postura?

Não são perguntas fáceis de responder e mesmo quando respondidas não são de fácil aplicação. Mas Palavra de Deus nos orienta. O certo é que como cristãos não podemos ser nem alienados e nem viver sem esperança numa luta sem sentido e com o sentimento de derrota antecipado.

São muitos os males: diversos tipos de violência, corrupção, falta de sentido para viver, dificuldades dentro da própria Igreja de Cristo, secularismo, relativismo religioso, tibieza dos discípulos e etc. Se fossemos enumerar tudo passaríamos um longo tempo.

No entanto, mesmo diante destas trevas, não podemos caminhar como se não tivéssemos a luz. Temos a Luz. Cristo é a luz do mundo (Jo 8,12). Cristo é a luz dos cristãos.

Embora não possamos e nem devamos ficar alienados diante de todas estas situações, muitas delas dramáticas e aparentemente sem solução, também não é do agrado do Senhor que façamos a mesma leitura histórica que é feita por aqueles que não têm fé, nem muito menos tenhamos na mente e no coração o desejo de encontrar a saída como eles estão tentando encontrar: pagar o mal com o mal. A Palavra de Deus nos ensina justamente o contrário: “tratem o mal com o bem” (Rm 12,21; 1Ts 5,15, 1Pd 3,11, 3Jo 1,11).

Se somos filhos de Deus a Palavra d’Ele é o nosso guia. Sabemos que não é fácil colocarmos toda a verdade e profundidade desta palavra dentro do nosso ser e, logo depois, em ação. Mas não podemos desanimar. Devemos continuar pedindo ao Senhor que ilumine os nossos pensamentos e os nossos sentimentos. Tudo isso para o nosso próprio bem e de toda a humanidade.

Caminhemos procurando a paz. “Que a graça e a Paz de Deus nosso Pai e de nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre conosco” (1Cor 1,3).

Um abraço fraterno! Graça e Paz

Francisco Edmar de S. Silva - MGDI

Siloé, mais do que um simples encontro






Como está narrado no Evangelho de São João (Jo 9,1-11) o ambiente do Siloé está destinado à cura e libertação de todos aqueles que se encontram enfermos tanto no corpo, como na alma e no espírito.

O Novo Testamento, por todas as suas narrativas, e a interpretação realizada pela Igreja durante estes dois milênios, nos apresentam Jesus como o próprio Siloé, enviado pelo Pai para a salvação de todo o gênero humano.

Por isso o Siloé não é um simples evento a mais, ou uma mera data a ser cumprida dentro da Disciplina Comum do DJC Local. Embora ele seja realizado semanalmente (e por conta disso o encaremos com algo rotineiro) deverá sempre ser revestido de uma profunda mística, trazendo sempre no coração e na mente a importância e a necessidade do Siloé em nossas vidas e nas vidas de todos aqueles que, toda quarta-feira, vêm ao encontro de Jesus.

A começar pelo Acompanhante Local, passando por todos os servidores e membros do DJC, sempre deverá ser cultivada está mística: “o Siloé é um mergulho na Graça de Deus”. Caso contrário ele, ao cair nas armadilhas perversas da rotina e da falta de amor e motivação, perderá a sua razão de ser e não corresponderá a vontade de Jesus e nem a necessidade do povo de Deus.

Devemos, a cada quarta-feira, participar do Siloé com toda fome e toda sede de Deus. Em todos os momentos deverá resplandecer o rosto misericordioso de Jesus, de tal forma que os nossos irmãos sintam gosto de sair das suas casas.

Por toda a importância do Siloé estas orientações, que se seguem, são destinadas a quem serve no Siloé nos mais diferentes ministérios. Outrossim, servem também para todos os outros momentos de evangelização do DJC: sejam eles encontros de FVC, encontros de espiritualidade ou aprofundamento, retiros e etc.

Por isso é preciso que possamos reproduzir com todo zelo estas orientações, pois a evangelização deve ser realizada com toda unção, mas também com toda a técnica disponível, pois dentro do nosso coração deve existir o desejo profundo de uma “nova evangelização”.

1. Apostolado da Benção

- as orações (Devoção Mariana, Espírito Santo e Benção) devem ser ministradas de acordo com os direcionamentos do dia. Desde o primeiro momento quem vai ministrar oração deve prestar atenção naquilo que o Dirigente está direcionando, sobretudo, aqueles que ministram oração de Benção depois da pregação: a pregação deve direcionar a oração, senão fica algo sem sentido e sem continuidade. O Ministro de Oração deve rezar a pregação.

- oração é oração; pregação é pregação... Por isso é que cada momento tem o seu específico. Quem vai pregar não pode, ao mesmo tempo, querer ministrar oração. Da mesma forma quem vai ministrar oração não pode fazer uma nova pregação. Existe algo próprio na oração: pedir para o Povo de Deus ir repetindo (isso os ajuda a rezar); pedir para levantar as mãos, colocar as mãos no coração; pedir para que eles rezem com suas próprias palavras (esta atitude ajuda a espantar a tibieza); só ministrar músicas que tenham sido combinadas com o Ministério de Música e que se tenha a segurança em ministrar;

- o Ministério de Intercessão deve ficar todo reunido num lugar bem à frente para colocar em prática o seu carisma e para estar a disposição quando for solicitado pelo dirigente ou Ministro de Oração. É sua missão também encontrar um lugar bem visível e bonito para a caixa dos pedidos de oração.

- a Palavra de Deus, através do Ministério de Liturgia, deverá ser proclamada com toda a solenidade e beleza possíveis. Sem atropelos ou falta de unção, pois ela é próprio Jesus.


2. Apostolado da Infra-Estruturada

- uma boa evangelização começa na acolhida. Acolhida bem feita, pessoa bem evangelizada. A Dona Lúcia (DJC Fortaleza) poderá depois nos dá uma aula de acolhimento. Ela é mestre nisso;

- a ambientação deverá ser organizada com amor e zelo. Todo evento pode esbarrar na estética que o antecede. Coisas espalhadas pelo lugar de oração, ambientes sujos, mal decorados ou com uma estética feia espantam o povo logo de primeira vista. Da mesma forma que ao chegar à casa de um amigo para almoçar podemos ficar assustados com a cor das panelas, dos pratos e das colheres (por mais que a refeição seja a melhor possível e a mais atraente), o povo de Deus fica receoso de freqüentar um lugar onde não se prima a higiene e a beleza (em todos os recantos do espaço de evangelização, inclusive os banheiros).

- a Livraria e a Lanchonete também estão a serviço da evangelização. Por isso mais do que vender as mercadorias e receber dinheiro, os servidores que lá estão devem estar preocupados com a evangelização, que começa pelo modo como se trata os discípulos que se dirigem a estes dos Ministérios. Se forem bem atendidas, mais do que adquirir um produto estas pessoas estarão sendo evangelizadas (maior objetivo). Caso contrário, estes ministérios podem ser pedra de tropeço para a evangelização, uma vez que poderão ser tachados de mercenários e contrários ao que nos ensina o Evangelho de Jesus.


3. Apostolado das Artes

- desde a montagem do som tudo deverá ser realizado com muito amor e unção, pois isso também já faz parte da evangelização.

- depois é necessária a escolha com antecedência do repertório de louvor, uma vez que as músicas de oração são pedidas um pouco antes do Siloé pelos ministros de oração. Se tudo for feito em cima da hora o povo percebe e a evangelização vai perdendo credibilidade.

- louvor é louvor. Nem é pregação e nem oração. Por isso quem ministra louvor deve criar um clima favorável onde o povo de Deus possa louvar e agradecer a Jesus por tudo. O povo gosta do mais simples. Louvor com muitas coreografias não ajuda. Uma coisa é um show de evangelização, outra coisa é um encontro de oração. O Siloé recebe pessoas de várias idades, por isso o discernimento deverá sempre ser posto em prática para não excluir ninguém. Além do mais o que garante a eficácia de um louvor não é quantidade de coreografias (embora sejam importantes), mas a unção e o amor com os quais são ministrados.

No mais, é importante lembrar que não é aconselhável que sejam realizadas, no decurso anual do Siloé, muitas trocas de dirigentes. O Acompanhante Local mesmo sendo o primeiro responsável pela condução do Siloé poderá convidar, por necessidade ou falta de carisma, uma pessoa para dirigir o Siloé. No entanto, esta exceção não pode se constituir numa fuga da missão, nem muito menos uma banalização do Siloé.

Desta forma, as pessoas que, por ventura, venham a ser convidadas para realizar a dirigência do Siloé devem ser orientadas a não esquecerem a peculiaridade do Siloé e a vocação e missão do DJC. Ademais nunca é redundante lembrar que devem ser pessoas maduras, com carisma e que demonstrem muito amor pelo DJC.

Francisco Edmar de S. Silva
Ministro Geral de Desenvolvimento Integral

Mais íntimo do que o “eu”


O Deus inefável realiza o ser humano. Não realiza da mesma forma o animal, porque nele nada existe que possa perceber o transcendental. Eis o motivo pelo qual os animais não são religiosos. Até a cabeça deles (voltada para baixo) indica que suas ocupações são terrestres. Mas o “homo sapiens” percebe o Ser por excelência. Seu conhecimento é a partir da inteligência. “Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós” (Tg 4,8). Sua cabeça é ereta (aberta para as coisas do alto). Nesta situação terrestre, a inteligência é a única forma normal de conhecer o Criador. Mas não é um conhecimento evidente, como percebemos, sem sombra de dúvidas, que o boi anda e a andorinha voa. Quando nos voltamos a Deus, a par de nossas certezas, sempre sobra alguma coisa mal explicada, alguma dúvida. Caso contrário, acabaria a fé. Em coisas evidentes nós temos certeza absoluta. Não podemos depositar fé. Só podemos crer, por um ato livre de vontade, em coisas ou pessoas que não conhecemos pela evidência dos sentidos.

Um prócer da literatura mundial, português, com enorme desdém, exclama que Deus só existe na cabeça das pessoas. Ainda bem que nos sentimos honrados com isso. Pois a nossa fé no Eterno, realmente provém da iluminação da inteligência. Agora, o ateísmo vem do coração (das paixões, da rebeldia). A descrença não vem de argumentos da inteligência. Os enganadores argumentos contra o Ser Supremo são uma ginástica posterior à decisão de não querer crer. O reconhecimento do único ser necessário, como todos podem sentir, se enquadra perfeitamente na nossa psicologia. Ele é o convexo que se encaixa no nosso côncavo. Encontra-se no centro do nosso “eu”. É a resposta para nossos anseios mais profundos. “Por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42, 1). Mesmo a organização social, para não ser um tortura de erros, deve derivar dos princípios do Autor de nossa natureza. A humanidade tem o direito de elaborar as leis sociais, de organizar a justiça da boa convivência. Ela tem o dever de descobrir o sentido da nossa existência. Mas seu coração não deve perder, por um momento, a sintonia com o Criador, que sabe para que finalidade nos criou. Caso contrário daremos “magni passus, sed extra viam”. Executaremos largos passos, mas fora do caminho (Santo Agostinho).

Dom Aloisio Roque Oppermann