Plano inclinado



À medida que se abandona a vida provada com o Senhor, vai se sentindo Deus cada vez mais distante. Deus não causa mais emoção; é palavra com cada vez menos conteúdo.

Quando se deixa de orar, Deus deixa de ser Alguém, tornando-se mera abstração. Ora, ninguém sente entusiasmo em lutar por teorias; a ninguém apetece relacionar-se e tratar com puras especulações. Finalmente, vai havendo cada vez menos anseio de orar.

Como em uma ladeira abaixo, pouco a pouco Deus vai deixando de causar alegria e não mais constitui nenhuma compensação. À medida que isto vai acontecendo, menor será o anseio de estar com ele, e cada vez menos se contará com ele. Se, durante este processo de decantação, sobrevém uma crise, sucumbe-se a ela, ou se busca equilibrar-se com fortes compensações.

Deus ausenta-se, e em seu lugar entra o “eu” com suas mil exigências; e o coração, uma vez ausente de Deus, sente-se frágil, impaciente, rancoroso e irascível. O que terá acontecido? Uma vez neutralizado o único Alguém que impunha controle e ordem nas forças selvagens do coração, levantam estas a cabeça e andam com toda comodidade por toda a esfera de comportamento, e não há quem as controle. Já fomos arrastados na espiral do desencanto.

Frei Ignacio Larrañaga – livro “Itinerário rumo a Deus” (pág. 20)