Quanto menos DCAs, porém mais formados, melhor para o DJC !?




"Ora, vocês são o corpo de Cristo e são membros dele, cada um no seu lugar. Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres... A seguir vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de falar em línguas. Por acaso, são todos apóstolos? Todos profetas? Todos mestres? Todos realizam milagres? Têm todos o dom de curar? Todos falam línguas? Todos as interpretam? Aspirem aos dons mais altos. Aliás, vou indicar para vocês um caminho que ultrapassa a todos". (1Cor 12,29-31)

Realizo essa reflexão para ajudar, dentro das suas limitações, na caminhada e discernimento do DJC no seu conjunto. Obviamente, as grandes decisões e encaminhamentos são tomados pelo Conselho Geral, órgão supremo de governo do DJC. Todavia, espero que essa reflexão seja um ponto de partida para o direcionamento de algo fundamental dentro da obra: o conjunto dos DCAs e, por tabela, os vocacionados à obra. Essa reflexão se faz, também, tendo como pano de fundo o seguinte: ainda não temos consagrados de aliança. Desta forma, quem garante a caminhada do DJC são os DCAs. Em outra situação essa ponderação, talvez, não precisaria ser realizada.

Todo e qualquer movimento ou nova comunidade dentro da Igreja Católica sobrevive, acima de tudo, graças a ação do Espírito Santo. Isso é indiscutível, pois se não fosse assim não teríamos realmente Igreja, mas apenas um aglomerado qualquer de pessoas com objetivos e finalidades diversas. Fica mais do que claro que quem mantém toda a estrutura da Igreja é o Espírito Santo. Para embasar a minha reflexão é preciso que isso fique bem claro. Quem manda mesmo é o Espírito Santo. É ele quem dá a cara e substância ao trabalho de evangelização.

Entretanto, é também verdade que a estrutura de evangelização se mantém graças a participação generosa de muitas pessoas que doam parte (ou totalmente) de suas vidas para que a Palavra de Deus seja anunciada. Essa doação pode vir por meio da dedicação do tempo ou dinheiro e, em muitos casos, dos dois. Sem a ação dessas pessoas a evangelização, tal como a concebemos hoje, se tornaria inviável, pois Deus que tudo pode fazer por meio do Espírito Santo, "quis precisar de cada um de nós".

Uma terceira verdade que se impõe, a luz da caminhada de toda a Igreja ao longo do tempo e, especialmente no tempo presente, é que é necessário, para o bom êxito da missão evangelizadora, que exista uma espinha dorsal que possa manter todo o restante do corpo em "ordem de batalha". Certamente, cada membro tem sua função específica e imprescindível (1Cor 12,12). No entanto, é a espinha dorsal que forma e concede força ao corpo. Sem ela o restante dos membros não consegue se sustentar e manter o movimento dinâmico e sincronizado necessário á sobrevivência.

Em assim sendo, o DJC tem que cada vez mais se preocupar com a sua espinha dorsal, sem, obviamente, esquecer-se do restante do corpo, ou seja, dos servidores, membros e participantes. A espinha dorsal do DJC, uma vez que ainda não temos a consagração, são os DCAs. São eles que, por meio da oração e da ação, conseguem manter o corpo todo do DJC de pé. Sem eles, agindo sob a graça do Espírito Santo, tudo desmorona.

E quando falo em me preocupar mais com a espinha dorsal quero colocar duas reflexões básicas.

A primeira se refere a formação, cada vez mais aprofundada, dos DCAs que já estão na caminhada. Boa vontade apenas não fala tanto ao mundo de hoje. É preciso dialogar e evangelizar com o mundo moderno. Para tanto, formação cristã, sólida, continuada e sistêmica é essencial. Não se trata da letra pela letra; não é uma formação apenas no sentido de aprender um conteúdo, mas no sentido de adquirir as armas necessárias para a batalha moderna. Isso já estamos fazendo em cada 2ª segunda-feira através das formações que são ministradas. Essa índole formativa deve ser continuada, sem interrupções ou maquiagens, nas 4ª segundas-feiras e, não menos importante, na vida pessoal de cada DCA por meio de leituras do Catecismo da Igreja Católica e de outros bons subsídios católicos, incluindo o Irmanador e os Temários de MOPD.

A segunda reflexão é que devemos ter mais zelo com a formação de quem está chegando. Na atual turma de vocacionados, dadas as grandes turbulências e indefinições, não foi possível garantir uma formação a contento e mais sólida. Não adianta "tapar o sol com a peneira". Até mesmo a presença física de muitos vocacionados ficou comprometida, seja por questões de ordem particular, profissional e até mesmo política (o que é bem grave).

A não presença já dificulta o processo de amadurecimento vocacional e formativo. Entretanto, a conjectura do momento salvaguarda tal situação. O que não podemos é repetir, nos anos vindouros, essa situação. Precisamos formar, de maneira mais clara e direta, o conjunto dos vocacionais que, via de regra, poderão vir a ser os novos DCAs, espinhal dorsal do DJC.

Para isso entendo que precisamos reduzir o número de vocacionados. Quanto menos melhor. O número de membros e servidores, a meu ver, deve ser constantemente aumentado. A pressão sobre esses não pode estar no mesmo patamar dos DCAs, pois corre-se o risco de não ficar ninguém. É preciso caminhar por etapas. Já o número de DCAs, sobretudo na ausência de consagração, não necessariamente precisa ser aumentado.

Quanto menos DCAs, porém mais formados, melhor para o DJC. O Papa Bento XVI, certa vez, fez uma reflexão importante a cerca do binômio quantidade-qualidade no cristianismo. Os dois devem caminhar juntos. Devemos nos preocupar com um e com outro. Entretanto, o primeiro é fruto imediato do segundo. Caso o segundo fique seriamente comprometido o primeiro não chega nem a existir. O Papa, com outras palavras, dizia que para o conjunto da Igreja é mais importante a existência de cristãos convictos do que muitos cristãos perdidos no tempo e no espaço. Os frutos do primeiro grupo é mais duradouro.

Essa é a mesma reflexão que fazemos aqui. E a faço porque muita gente dentro do DJC só imagina a Obra de Evangelização funcionando se tiver muita gente. O caminho não é esse. Muitas comunidades, que possuem milhares de membros e atuação nacional e internacional se mantém com cerca de 1.500 consagrados, incluindo consagrados de vida e de aliança. E por que fazem isso? Porque sentiram na pele, ao longo de todos esses anos, que é melhor "um pássaro na mão do que dois ou mais voando". E esses, bem formados, garantem a permanência e revigoramento do carisma da comunidade.

O DJC, de modo análogo, comparando-se o seu raio de ação, já se encontra nesse patamar. Em termos comparativos, o número de DCA que possuímos já se equipara ao das grandes comunidades. Desta forma, o nosso foco deve estar em aumentar o grau de oração e formação dos que já estão e, acima de tudo, transmitir isso para os que estão chegando.

Não falo em parar os encontros vocacionados. Particularmente, fico muito preocupado quando a saída adotada, em qualquer instância do DJC, é dar uma parada em algo ou em alguém. Tal atitude denota certa ineficiência nossa. E tal atitude, que se configura como extraordinária na sua essência, não pode se transformar em algo ordinário, pois perde seu objetivo e mística. Por isso, não falo em parar. Falo em reorganização mediante redirecionamento formativo e redução do número de membros. Até mesmo o acompanhamento do processo vocacional, momento decisivo da caminhada, irá melhorar com a redução do número de candidatos.

Como vimos na exortação de São Paulo aos coríntios é evidente que a espinha dorsal da Igreja eram os apóstolos. Eles vieram em primeiro lugar. Em segundo os profetas e depois os mestres, e assim por diante. Existe uma clara hierarquia. E ela existe não para encher "os primeiros" de orgulho, mas de responsabilidade. Os apóstolos tinham bem claro isso em sua mente. E a sucessão apostólica continua  com os bispos do mundo todo, que permanecem sendo a espinha dorsal da Igreja. O Papa também é "o bispo de Roma".

Entretanto, para não cair no orgulho, mesmo sendo os primeiros responsáveis pela missão evangelizadora, São Paulo faz uma segunda e importante exortação: "Pelo que vejo, Deus reservou o último lugar para nós que somos apóstolos, como se estivéssemos condenados à morte, porque nos tornamos espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens! Nós somos loucos por causa de Cristo; e vocês, como são prudentes em Cristo! Nós somos fracos, vocês são fortes! Vocês são bem considerados, nós somos desprezados! Até agora passamos fome, sede, frio e maus tratos; não temos lugar certo para morar; e nos esgotamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos amaldiçoados, e abençoamos; perseguidos, e suportamos; caluniados, e consolamos. Até hoje somos considerados como o lixo do mundo, o esterco do universo". (1Cor 4,9-13)

Francisco Edmar
MGDI 

Salvação em Cristo Jesus


 "Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro". (Papa Bento Xvi, Carta Apostólica PORTA FIDEI)

É com essas palavras que o Papa Bento XVI encerra a Carta Apostólica Porta Fidei, que introduz a Igreja na mística do Ano da Fé. Sempre gosto muito dos escritos do Papa, pois cada palavra ou frase são de um profundidade sem comparação. Lendo esta frase ganhamos um novo e vigoroso rumo para a realização dos nossos Kairós.
Desta forma, todos os nossos Kairós devem ser espaços propícios para que seja exaltada a verdade e a necessidade da salvação em Jesus Cristo. É necessário que cada oração e pregação, realizadas por pessoas diferentes e com linguagens particulares, possam convergir para esse fim último: a salvação em Jesus Cristo.
Quem não aceita essa salvação, de corpo, alma e coração, permanece na escuridão e na ignorância, embora travestido de luz e sabedoria. Somente a salvação de Jesus, tal como ensinada na Palavra de Deus, em especial no Novo Testamento, é capaz de trazer a luz e a vida nova aos homens de todos os tempos, especialmente ao home de hoje.
Por isso é de suma importância que os Siloés que serão realizados antes do grande dia do Kairós já possam ir propagando esta mística. É preciso que nesses Siloés o clima de aceitação da Salvação já possa ir sendo criado. Caso contrário, pode chegar o dia do Kairós e as pessoas nem saibam bem porque estão ali.
Os pré-Kairós, tal como o de Cascavel que já foi agendado, também são momentos para se criar esse clima. Numa linguagem peculiar, que preza mais pelo louvor, esse encontro é de suma importância para não transformar o Kairós num evento a mais, um outro Siloé em dia diferente.

Deus tem pressa para nos salvar

A urgência que Deus tem para nos salvar é um dos temas centrais da obra de Lucas (Evangelho e Atos dos Apóstolos). A história de Zaqueu é um caso exemplar (Lc 19,1-10). Zaqueu era rico, poderoso e infeliz. Era “muito baixo”: vivia para o dinheiro e por isso roubava e explorava.
Um certo dia, subiu numa figueira para ver Jesus passar, pois, como sabemos, “era muito baixo”. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima, e disse: “Desça DEPRESSA, Zaqueu, porque HOJE preciso ficar em sua casa”. Esta boa notícia ecoou no coração do pobre homem de Jericó. Acolheu a palavra de Jesus e nele acreditou: “Desceu RAPIDAMENTE, e RECEBEU Jesus com alegria”.
Que atitude de fé e humildade! Que prontidão! Que alegria!, disse Jesus consigo mesmo. Então, estabeleceu o Kairós na vida de Zaqueu.
Muitos criticaram o Senhor Jesus, dizendo: “Ele foi se hospedar na casa de um pecador!” Ora, foi precisamente para isto a que veio: reconciliar os homens com o Pai. Não se alegra com a morte do pecador, mas que se converta e viva vida nova, agora(Jo 3,16-18).
Ante a urgência de Deus nos salvar, é preciso a emergência da nossa conversão, livre e consciente. Da nossa resposta dependerá a nossa salvação ou a nossa condenação. O que fica para trás é de muito menos valor que “as coisas novas” concedidas por Deus.
No Evangelho, quando Zaqueu se converteu, compartilhou suas riquezas com os necessitados e reparou os seus pecados, devolvendo tudo o que tinha roubado. Deste modo, não ficou só na intenção, mas realmente esvaziou-se do velho pecado para receber Jesus, “com alegria”. Disse Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”. O convertido tem plena consciência de que o seu único tesouro é Jesus e faz opção radical por ele(Fl 3,7).
Conversão é este “lançar-se em direção à meta”, “em vista do prêmio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo”. Trata-se de uma opção fundamental: a decisão de iniciar uma vida nova que tende a crescer e a se desenvolver mais e mais na graça do Espírito Santo.
Também nós, que já fomos batizados e participamos da Igreja, precisamos nos converter diariamente. E isto é muito importante! A cada dia temos a oportunidade de refazer o nosso compromisso com Deus. Arrependendo-nos dos erros cometidos e renovando o nosso primeiro SIM estamos cooperando com a renovação da nossa vida cristã-batismal(Col 3,10).
Salvação é, pois, graça de vida nova e abundante em Cristo Jesus. Para que ela ocorra é preciso que nos convertamos. Porém, esta decisão de mudar de vida nunca será resultado só do nosso esforço. É preciso que queiramos, mas, na verdade, a conversão é fruto do Espírito Santo. Como dizia Santo Agostinho: “É o próprio Deus quem opera em nós o querer e o fazer!”.
Por isso é fundamental para a nossa conversão-salvação que desejemos, aspiremos, supliquemos com insistência e acolhamos o Espírito Santo. Ele é a nossa única esperança. Sem a Graça de Deus não podemos fazer nada(Jo 5,5), nem mesmo nos converter e tomar posse da herança de salvação! Um só Deus Bendito da Aliança agindo em nosso benefício, por amor: a decisão de nos salvar é do Pai Celeste.
Quem nos salva é Jesus Cristo. Mas quem nos converte e nos prepara para acolher a salvação é o Espírito Santo. Portanto, em primeiro lugar, devemos invocar o Espírito Santo. Neste Espírito, acolher Jesus Salvador para a maior glória do Pai!
A salvação é, ao mesmo tempo, personalizada e integral. Cada pessoa tem a sua própria história, com os seus sucessos e fracassos, virtudes e vícios. Jesus salvou Zaqueu de um jeito, a mulher samaritana de outro e para você, tem um plano especial e personalizado.
Jesus é Onisciente, ou seja, cheio de ciência e sabedoria.  Por isso, conhece a cada um e o momento que está vivendo. A salvação que ele opera é personalizada, conforme as necessidades vitais de cada criatura humana.
No evangelho, Jesus conseguia entrar na vida de cada pessoa, acolher, chamar pelo nome, revelar os pensamentos e falar ao coração. Mesmo quando estava no meio de uma grande multidão, tinha a capacidade de se dirigir a cada um em particular, com uma atenção e consideração bem especiais. Jesus conhece e ama a pessoa humana em todas as suas dimensões, pois o homem, como um todo, é criatura de Deus, é obra boa feita pelo Pai Criador. Por isso, a salvação que ele realiza, além de ser personalizada, é integral, total.

Francisco Edmar
MGDI  

Homilia do Papa Bento XVI na abertura do Ano da Fé - 11/10/2012




HOMILIA
Santa Missa de abertura do Ano da Fé
Praça São Pedro - Vaticano
Quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Venerados Irmãos,
Queridos irmãos e irmãs!

Hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé. Tenho o prazer de saudar a todos vós, especialmente Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, e Sua Graça Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária. Saúdo também, de modo especial, os Patriarcas e Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais católicas, e os Presidentes das Conferências Episcopais. Para fazer memória do Concílio, que alguns dos aqui presentes – a quem saúdo com afeto especial - tivemos a graça de viver em primeira pessoa, esta celebração foi enriquecida com alguns sinais específicos: a procissão inicial, que quis recordar a memorável procissão dos Padres conciliares, quando entraram solenemente nesta Basílica; a entronização do Evangeliário, cópia daquele que foi utilizado durante o Concílio; e a entrega das sete mensagens finais do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica, que realizarei no termo desta celebração, antes da Bênção Final. Estes sinais não nos fazem apenas recordar, mas também nos oferecem a possibilidade de ir além da comemoração. Eles nos convidam a entrar mais profundamente no movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II, para que se possa assumi-lo e levá-lo adiante no seu verdadeiro sentido. E este sentido foi e ainda é a fé em Cristo, a fé apostólica, animada pelo impulso interior que leva a comunicar Cristo a cada homem e a todos os homens, no peregrinar da Igreja nos caminhos da história.

O Ano da fé que estamos inaugurando hoje está ligado coerentemente com todo o caminho da Igreja ao longo dos últimos 50 anos: desde o Concílio, passando pelo Magistério do Servo de Deus Paulo VI, que proclamou um "Ano da Fé", em 1967, até chegar ao o Grande Jubileu do ano 2000, com o qual o Bem-Aventurado João Paulo II propôs novamente a toda a humanidade Jesus Cristo como único Salvador, ontem, hoje e sempre. Entre estes dois Pontífices, Paulo VI e João Paulo II, houve uma profunda e total convergência na visão de Cristo como o centro do cosmos e da história, e no ardente desejo apostólico de anunciá-lo ao mundo. Jesus é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus. Ele é o cumprimento das Escrituras e seu intérprete definitivo. Jesus Cristo não é apenas o objeto de fé, mas, como diz a Carta aos Hebreus, é aquele “que em nós começa e completa a obra da fé” (Hb 12,2).

O Evangelho de hoje nos fala que Jesus Cristo, consagrado pelo Pai no Espírito Santo, é o verdadeiro e perene sujeito da evangelização. “O Espírito do Senhor está sobre mim, / porque ele me consagrou com a unção / para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). Esta missão de Cristo, este movimento, continua no espaço e no tempo, ao longo dos séculos e continentes. É um movimento que parte do Pai e, com a força do Espírito, impele a levar a Boa-Nova aos pobres, tanto no sentido material como espiritual. A Igreja é o instrumento primordial e necessário desta obra de Cristo, uma vez que está unida a Ele como o corpo à cabeça. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). Estas foram as palavras do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos, que soprando sobre eles disse: “Recebei o Espírito Santo” (v. 22). O sujeito principal da evangelização do mundo é Deus, através de Jesus Cristo; mas o próprio Cristo quis transmitir à Igreja a missão, e o fez e continua a fazê-lo até o fim dos tempos infundindo o Espírito Santo nos discípulos, o mesmo Espírito que repousou sobre Ele, e n’Ele permaneceu durante toda a sua vida terrena, dando-lhe a força de “proclamar a libertação aos cativos / e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

O Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento específico. E, no entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo. Neste sentido, o Servo de Deus Paulo VI, dois anos depois da conclusão do Concílio, se expressava usando estas palavras: “Se o Concílio não trata expressamente da fé, fala da fé a cada página, reconhece o seu caráter vital e sobrenatural, pressupõe-na íntegra e forte, e estrutura as suas doutrinas tendo a fé por alicerce. Bastaria recordar [algumas] afirmações do Concílio (...) para dar-se conta da importância fundamental que o Concílio, em consonância com a tradição doutrinal da Igreja, atribui à fé, a verdadeira fé, que tem a Cristo por fonte e o Magistério da Igreja como canal” (Catequese na Audiência Geral de 8 de março de 1967).

Agora, porém, temos de voltar para aquele que convocou o Concílio Vaticano II e que o inaugurou: o Bem-Aventurado João XXIII. No Discurso de Abertura, ele apresentou a finalidade principal do Concílio usando estas palavras: “O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. (...) Por isso, o objetivo principal deste Concílio não é a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal... Para isso, não havia necessidade de um Concílio... É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de forma a responder às exigências do nosso tempo” (AAS 54 [1962], 790791-792).

À luz destas palavras, entende-se aquilo que eu mesmo pude então experimentar: durante o Concílio havia uma tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo. Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apóie sobre uma base concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão. É por isso que repetidamente tenho insistido na necessidade de retornar, por assim dizer, à “letra” do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu verdadeiro espírito; e tenho repetido que neles se encontra a verdadeira herança do Concílio Vaticano II. A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança.

Se nos colocarmos em sintonia com a orientação autêntica que o Bem-Aventurado João XXIII queria dar ao Vaticano II, poderemos atualizá-la ao longo deste Ano da Fé, no único caminho da Igreja que quer aprofundar continuamente a “bagagem” da fé que Cristo lhe confiou. Os Padres conciliares queriam voltar a apresentar a fé de uma forma eficaz, e se quiseram abrir-se com confiança ao diálogo com o mundo moderno foi justamente porque eles estavam seguros da sua fé, da rocha firme em que se apoiavam. Contudo, nos anos seguintes, muitos acolheram acriticamente a mentalidade dominante, questionando os próprios fundamentos do depositum fidei a qual infelizmente já não consideravam como própria diante daquilo que tinham por verdade.

Se a Igreja hoje propõe um novo Ano da Fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos! E a resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos Papas e Padres conciliares e que está contida nos seus documentos. Até mesmo a iniciativa de criar um Concílio Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização – ao qual agradeço o empenho especial para o Ano da Fé – enquadra-se nessa perspectiva. Nos últimos decênios tem-se visto o avanço de uma "desertificação" espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o caminho. A primeira Leitura falava da sabedoria do viajante (cf. Eclo 34,9-13): a viagem é uma metáfora da vida, e o viajante sábio é aquele que aprendeu a arte de viver e pode compartilhá-la com os irmãos - como acontece com os peregrinos no Caminho de Santiago, ou em outros caminhos de peregrinação que, não por acaso, estão novamente em voga nestes últimos anos. Por que tantas pessoas hoje sentem a necessidade de fazer esses caminhos? Não seria porque neles encontraram, ou pelo menos intuíram o significado do nosso estar no mundo? Eis aqui o modo como podemos representar este ano da Fé: uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas - como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão (cf. Lc 9,3), mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como é o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos.
Venerados e queridos irmãos, no dia 11 de outubro de 1962, celebrava-se a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. A Ela lhe confiamos o Ano da Fé, tal como fiz há uma semana, quando fui, em peregrinação, a Loreto. Que a Virgem Maria brilhe sempre qual estrela no caminho da nova evangelização. Que Ela nos ajude a pôr em prática a exortação do Apóstolo Paulo: “A palavra de Cristo, em toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros, com toda a sabedoria... Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus. Por meio dele dai graças a Deus Pai” (Col 3,16-17). Amém.


Formação DCA's e Vocacionados - 08/10/12



ARTIGO 2
A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA
74. Deus «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2,4), quer dizer, de Cristo Jesus (37). Por isso, é preciso que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos os homens, e que, assim a Revelação chegue aos confins do mundo:
Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos (38).
I. A Tradição apostólica
75. «Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma, tendo cumprido e promulgado pessoalmente o Evangelho antes prometido pelos profetas, mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes assim os dons divinos» (39).
A PREGAÇÃO APOSTÓLICA ...
76. A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras:
– oralmente, «pelos Apóstolos, que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo»;
– por escrito, «por aqueles apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação» (40).
... CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA
77. «Para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, "entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério"» (41). Com efeito, «a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão ininterrupta, até à consumação dos tempos» (42).
78. Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, denomina-se Tradição, enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora estreitamente a ela ligada. Pela Tradição, «a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita» (43). «Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante» (44).
79. Assim, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, pelo seu Verbo, no Espírito Santo, continua presente e activa na Igreja: «Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo – por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja, e, pela Igreja, no mundo – introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza» (45).
II. A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
UMA FONTE COMUM...
80. «A Tradição sagrada e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim» 16. Uma e outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu estar com os seus, «sempre, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
... DUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO DISTINTAS
81. «A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino».
«A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação» (47).
82. Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a transmissão e interpretação da Revelação, «não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência» (48).
TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS
83. A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito Santo. De facto, a primeira geração de cristãos não tinha ainda um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o processo da Tradição viva.
É preciso distinguir, desta Tradição, as «tradições» teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais, nascidas no decorrer do tempo nas Igrejas locais. Elas constituem formas particulares, sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diferentes épocas. É à sua luz que estas podem ser mantidas, modificadas e até abandonadas, sob a direcção do Magistério da Igreja.
III. A interpretação da herança da fé
A HERANÇA DA FÉ CONFIADA À TOTALIDADE DA IGREJA
84. O depósito da fé (49) («depositum fidei»), contido na Tradição sagrada e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos ao conjunto da Igreja. «Apoiando-se nele, todo o povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração, de tal modo que, na conservação, actuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis» (50).
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
85. «O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo (51), isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
86. «Todavia, este Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado» (52).
87. Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apóstolos: «Quem vos escuta escuta-me a Mim» (Lc 10, 16) (53), recebem com docilidade os ensinamentos e as directrizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas.
OS DOGMAS DA FÉ
88. O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com elas um nexo necessário.
89. Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro lado, se a nossa vida for recta, a nossa inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé (54).
90. A interligação e a coerência dos dogmas podem encontrar-se no conjunto da revelação do mistério de Cristo (55). Convém lembrar que «existe uma ordem ou "hierarquia" das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente» (56).
O SENTIDO SOBRENATURAL DA FÉ
91. Todos os fiéis participam na compreensão e na transmissão da verdade revelada. Todos receberam a unção do Espírito Santo que os instrui (57) e os conduz «à verdade total» (Jo 16, 13).
92. «A totalidade dos fiéis [...] não pode enganar-se na fé e manifesta esta sua propriedade peculiar por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando, "desde os bispos até ao último dos fiéis leigos", exprime consenso universal em matéria de fé e costumes» (58).
93. «Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela acção do Espírito de verdade, o povo de Deus, sob a direcção do sagrado Magistério [...] adere indefectivelmente à fé, uma vez por todas confiada aos santos; penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na vida» (59).
O CRESCIMENTO NA INTELIGÊNCIA DA FÉ
94. Graças à assistência do Espírito Santo, a inteligência das realidades e das palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja:
– «Pela contemplação e pelo estudo dos crentes, que as meditam no seu coração» (60); e particularmente pela «investigação teológica, que aprofunda o conhecimento da verdade revelada» (61).
– «Pela inteligência interior das coisas espirituais que os crentes experimentam» (62);«Divina eloquia cum legente crescunt» – «As palavras divinas crescem com quem as lê» (63).
– «Pela pregação daqueles que receberam, com a sucessão episcopal, um carisma certo da verdade» (64).
95. «É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo um sapientíssimo desígnio de Deus, estão de tal maneira ligados e conjuntos, que nenhum pode subsistir sem os outros e, todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas» (65).
Resumindo:
96. O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o transmitiram, pela sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até à vinda gloriosa de Cristo.
97. «A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um único depósito sagrado da Palavra de Deus» (66), no qual, como num espelho, a Igreja peregrina contempla Deus, fonte de todas as suas riquezas.
98. «Na sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é, tudo aquilo em que acredita» (67).
99. Graças ao sentido sobrenatural da fé, o povo de Deus, no seu todo, não cessa de acolher o dom da Revelação divina, de nele penetrar mais profundamente e de viver dele mais plenamente.
100. O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado unicamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele.

Fonte: Catecismo da Igreja Católica

Quando se busca só o hoje onde fica o eterno?



Então Jesus falou aos seus discípulos: “Por isso eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir. Pois a vida vale mais do que a comida, e o corpo mais do que a roupa. O Pai bem sabe que vocês têm necessidade dessas coisas. Portanto, busquem o Reino dele, e Deus dará a vocês essas coisas em acréscimo
(Lc 12,22-23.30-31)

  
A humanidade que vive no mundo chamado “pós-moderno, mais do que em outros momentos históricos, cresce em cima do ter: dinheiro, fama, sucesso, casas luxuosas, carros e etc. 

Hoje existe uma busca desenfreada pelo aqui e agora, em detrimento do eterno, do transcendente. A humanidade de hoje, turbinada por falsos ideais, perdeu a mística do eterno. A moda hoje é o superficial, ou seja, aquilo que traz prazer imediato. Comportando-nos, como cristãos, deste mesmo modo não teremos destino diferente dos homens e mulheres que vivem afastados de Jesus e da Igreja: “e se não vos converterdes morrerão do mesmo jeito” (Lc 13,1-3). 

Usa-se a argumentação de que se nós tivermos dinheiro e fama todos os problemas estão resolvidos e que aquilo que Jesus e a Igreja propõem não passa de mero atraso para a vida. Coloca-se que o avanço tecnológico iria resolver todos os malefícios sociais. No entanto, isso é inverídico, não acontece e não vai acontecer. 

Trabalhamos, estudamos, nos esforçamos para que no futuro e ate mesmo agora possamos ter uma vida melhor. Mas esta busca não pode ser louca o ponto de matar de Deus, ou seja, retira-lo de nossas vidas. Tudo isso é importante, porém passará. Somente Deus e sua Palavra permanecerá por toda eternidade. 

Já o cristão deve investir tudo no ser: santo, humilde, caridoso. Parece até que caminhamos na contramão. E isso não é somente impressão, mas de fato estamos indo. Se quisermos ganhar a vida eterna devemos buscar primeiramente às coisas do alto, pois de nada nos adianta outras coisas. 

Jesus certa vez, em uma de seus ensinos aos discípulos, disse claramente: “O que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e vir a perder a vida eterna” (Mc 8,36). 

Hoje é inadmissível que muitas pessoas fiquem esbanjando dinheiro, como já se dizia no ditado popular, “a torta e a direita”, e muitos irmãos nossos, sobretudo, nos países ditos subdesenvolvidos morrem de fome, muitas vezes precisando de muito pouco para sobreviver. 

Isso é algo absurdo e que passa despercebido, às vezes conscientes e outras por mau intenção mesmo, aos nossos olhos e, acima de tudo razão e coração. 

Um tempo desses saiu uma reportagem dizendo que uma apresentadora de programas na TV brasileira gastou dez mil reais para transportar seu cachorro de estimação de São Paulo até o Rio de Janeiro. Você não está enganado não: foi exatamente a cifra de R$ 10.000 reais para levar um cachorro de avião particular de uma cidade a outra. 

Mas muitas pessoas podem dizer: o dinheiro é dela e, de fato e de direito, ela pode gastar do jeito que quiser. Isso é uma aberração humana e, de certa forma, até uma burrice coletiva. Por que ela pode gastar desta forma arbitrária o que tem e uma pessoa do seu lado morre de fome precisando apenas de um quilo de feijão ou de arroz para saciar suas necessidades básicas. 

Isso é a cegueira que o mundo nos impõe e que, aos poucos, vamos nos acostumando e achando que é certo e que não se tem problema porque aquela pessoa merece tudo aquilo que está vivendo. 

E os nossos pais e mães que passam o dia inteiro trabalhando duro para ganhar um salário mínimo para pagar água, luz, alimentar os filhos, vesti-los e calcá-los não merecem? Ou será que trabalham e sofrem menos do que estes artistas famosos? Pense, reflita e responda! 

Alguns jogadores de futebol ganham 10, 20 até mesmo 50 milhões de reais por ano e tem como roby ficar passeando de avião para cima e para baixo, sem se preocupar com as mazelas do mundo. 

E quando são interrogados podem até responder: mais a responsabilidade de resolver os problemas sociais é dos políticos por meio de políticas públicas eficientes. Claro que todos nós sabemos que isso é real e que deveria ser desta forma. Não estamos aqui contestando está verdade, mas sim a legitimação de salários milionários enquanto muitas pessoas não têm nem mesmo o direito de se alimentar, ao lazer, à educação, saúde e a todas as demais necessidades humanas. Será que isso é justo? 

Da mesma forma que é ilícito a político não assumir sua missão de promover o bem estar social é também, no mínimo absurdo, legitimar e tornar certo que alguns tenham muito e outros nada sob a alegativa de que este merece tudo o que está vivendo. E aqueles anônimos, porém tão importantes que dão a vida e o sangue para que os outros possam usufruir não merecem? 

Enquanto um ser humano não for capaz de se solidarizar, não somente por meio de palavras, mas por atos concretos com as dores dos outros nenhum problema social irá ser resolvido!

Francisco Edmar
MGDI