Precisamos,
para adentrar no itinerário proposto nessa Páscoa, avançar um pouco nas nossas
reflexões. Lembrando que essas reflexões não são verdades absolutas, mas apenas
fruto da minha humilde reflexão pessoal, dentro do meu itinerário. Elas se
propõem a ser apenas uma contribuição para o conjunto da obra DJC. Mas cada
qual pode, e deve seguir, guiado pelo Espírito, o seu próprio itinerário.
O que nos
guia agora é o pedido de São Paulo:
“Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos, e a
vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo se manifestar,
ele que é a nossa vida, então vocês também se manifestarão com ele na glória.
Vida nova em Cristo”. (Cl 3,2-4).
Ele nos
pede para pensar nas coisas do alto. Pensar é o ato que diferencia o ser humano
dos animais irracionais. O ato de pensar ajuda o seu humano a alcançar as suas capacidades
mais sublimes, a chegarmos a lugares inesperados, inclusive ao coração de Deus.
Certamente alguém pode dizer que não rezamos somente com a mente, porque se
assim fosse em nada estaríamos nos diferenciando das seitas orientais, tal como
a Seicho-no-ie. Aqueles que pensam assim estão com toda a razão. Não podemos
confiar apenas na força do pensamento para alcançarmos a Deus e,
consequentemente, a salvação. A salvação é, antes e acima de tudo, uma graça
divina, um dom e uma atitude primeira d’Ele.
Entretanto,
como o pensamento faz parte das nossas capacidades humanas, e sendo que é
através das capacidades humanas que nos aproximamos de Deus, não podemos
prescindir dele. Devemos fazer bom uso dos pensamentos. Caso contrário, São
Paulo não teria pedido para pensar nas coisas do alto. E a razão dele fazer
esse pedido parece ser bem lógica: “vocês
estão mortos, e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus”. Se a
nossa vida verdadeira está escondida em Cristo, então pensar nas coisas do alto,
nos ajuda, a seu modo, a descobrir os mistérios de Deus.
Mas o que
realmente significa pensar nas coisas do alto? Significar colocar os nossos
pensamentos direcionados para Deus, que está no alto. E alcançamos Deus de
várias formas, mas sempre graças a ação do Espírito Santo. É o Espírito que
mantém viva a espiritualidade. E o coração da espiritualidade é a oração. Desta
forma, o lugar privilegiado para pensar nas coisas do alto é a oração. A oração
ungida unge também os pensamentos. Reza bem quem reza de coração, cheio da
unção do Espírito Santo. No entanto, mesmo quando se reza de coração, reza-se
também com os pensamentos.
Mas existem
outros lugares privilegiados para se pensar em Deus: a leitura de bons livros
católicos, escutar músicas católicas de boa qualidade, escutar pregações, ter
boas conversar, boas amizades, e assim por diante. Tudo isso vai elevando nosso
pensamento para o alto.
Por outro
lado não podemos perder de vista que olhar, tendo Jesus como luz dos nossos
olhos, para aquilo que nos circunda não deixa de ser um olhar para o alto.
Visitar os irmãos enfermos, pagar a contribuição fiel, se sacrificar pela
evangelização, respeitar o irmão de caminhada, especialmente aquele que é
responsável direto por você, é também pensar nas coisas do alto. E olhando para
o alto alcançamos Deus. E alcançando Deus podemos transformar o que está ao
nosso redor, até mesmo no campo político e social.
Para
finalizar meditemos nessa musica do Padre Zezinho. É uma verdadeira catequese a
cerca da espiritualidade cristã. E os pensamentos estão em concordância com
essa mesma espiritualidade.
Feita de dois
riscos é a minha cruz
Sem esses dois
riscos não se tem Jesus
Um é vertical,
o outro horizontal
O vertical
eleva, o horizontal abraça
Feita de dois
riscos é a minha cruz
Sem esses dois
riscos não se tem Jesus
Feita de dois
riscos é a minha fé
Sem esses dois
riscos religião não é
Um é vertical,
o outro horizontal
Um vai buscar
na fonte
O outro é o
aqueduto
Feita de dois
riscos é a minha fé
Sem esses dois
riscos religião não é
Feita de dois
riscos é o meu caminhar
Sem esses dois
riscos posso não chegar
Um é vertical,
o outro horizontal
O vertical
medita, o horizontal agita
Feita de dois
riscos é o meu caminhar
Sem esses dois
riscos posso não chegar
É importante salientar que em algumas traduções a frase
“pensem nas coisas do alto” é trocada por “aspirai as coisas do alto”. O verbo
muda, mas a intenção do apóstolo é a mesma. Aspirar é desejar, é querer, é
pensar e agir ardentemente, tendo em vista as coisas do alto, ou seja, na
essência, o próprio Deus.
Francisco
Edmar
AGDI