“Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela palavra deles. Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, A FIM DE QUE O MUNDO CREIA QUE TU ME ENVIASTES. Eu lhes dei a gloria que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que tu me enviaste e os amastes como amaste a mim” (Jo 17,20-23)
Para os cristãos, relações humanas não se resumem a
postulados, princípios ou categorias filosóficas, sociológicas ou
antropológicas. Relações humanas não se resumem, também, à simples convivência.
Para nós as relações humanas possuem como fim último o cultivo da fraternidade.
E bem sabemos que fraternidade é caridade (amor em movimento) e, portanto, dom
de Deus. Desta forma, é graça do Espírito Santo. Caso contrário, não poderemos
ser distinguidos como cristãos: “nisto
reconhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”
(Jo 13,35).
E por que elas não se resumem à mera convivência?
Porque Jesus as divinizou. O homem-Deus diviniza as relações humanas. Elas
permanecem, por natureza, sendo humanas, mas agora são agraciadas pela benção e
pelo poder de Deus. E é justamente por isso que elas deixam de ser apenas
relações humanas para entrarem na esfera da fraternidade. Em outras palavras,
Jesus elevou a convivência à condição de fraternidade.
E o que é fraternidade? Etimologicamente (ao pé da
letra), significa união de irmãos. Mas por ser uma palavra muito usada não
sabemos direito o que, na prática, ela significa. Não sabemos se existe um
modelo a ser seguido. Mas quando lemos a Palavra de Deus descobrimos que existe
sim um modelo (At 2,1-4; 42-47; 4,32-37).
A partir destas explicações iniciais é que podemos
falar de relações humanas.
Para Giuseppe Colombero “o homem é virtuoso não só
quando cumpre atos de fé ou de temperança, mas também quando é solidário com os
seus semelhantes, quando compartilha com eles ‘as alegrias e esperanças, as
tristezas e angústias... solidariedade significa abertura sincera e ativa a
todos, abertura que atribui ao termo outro o sentido amplo e belo de todos nós.
Uma moral que levasse em consideração exclusivamente a formação do indivíduo na
qualidade de indivíduo e tivesse como objetivo tão-somente a sua
auto-realização, ignorando a sua inserção no tecido social, seria uma moral
teórica, abstraída da realidade. Temos uma identidade individual e uma social,
devemos formar tanto uma como a outra, aprender a viver bem entre as duas
vertentes do eu, a que se dirige para o íntimo de nós mesmos e a que vai em
direção aos outros. Devemos saber estar bem conosco mesmos e com outros, amar o
silêncio e a palavra, a solidão e o convívio”.
Mais a frente o mesmo autor diz: “estou convencido de
que, se observássemos as boas maneiras ditadas pela boa educação, já seríamos
metade santos. Seguramente seríamos mais aceitos pelos fiéis, mais ouvidos,
seguidos e mais amados... a humanidade rica e sincera de um missionário é
evangelizadora em si mesma no sentido de que revela o evangelho, de modo
especial o Evangelho Vivo que é Cristo, em quem tanto crentes como descrentes
vêem a encarnação da bondade”. Por fim, ele diz que é “preciso propor aos
cristãos uma reflexão sobre a importância de certos aspectos do comportamento,
como boa educação, respeito, delicadeza, cordialidade, solicitude e etc”.
Na sociedade de hoje, marcada pelo secularismo e
relativismo religiosos, bem como pela idolatria e violência ou somos cristãos
verdadeiros, cheios de fé, unção, parresia e fraternidade, ou seremos engolidos.
Senão vejamos: enquanto estamos, protegidos pelas
paredes desta Igreja, achando que já fazemos muito, um número enorme de pessoas
estão lá fora, no mundo, vivendo uma vida longe daquilo que Deus quer. Outro
exemplo: pensamos muito como fazer a nossa catequese se tornar eficiente (que
usa os meios adequados) e eficaz (que dá bom resultado)? Simples: sendo
discípulo de Jesus. Caso contrário, devemos escolher outro caminho a seguir.
Este é o segredo.
Graça e paz!
Francisco Edmar
AGDI