Façam morrer aquilo que em vós pertence à terra



“Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria. Isso é o que atrai a ira de Deus sobre os rebeldes. Outrora, também vocês eram assim, quando viviam entre eles. Agora, porém, abandonem tudo isso: ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas, que saem da boca de vocês”. (Cl 3,5-8)

Após fazer, nos primeiros versículos, uma breve e profunda advertência, São Paulo começa a exortar-nos.

Por isso, ainda no versículo número dois São Paulo nos lembra que devemos pensar e buscar as coisas do alto e não as da terra. Agora ele detalha um pouco mais o que são as coisas da terra. E nos dá um grande conselho para que permaneçamos, como seguidores de Cristo, longe de tudo o que nos afasta de Deus. Na verdade, a linguagem que ele usa é que “façamos morrer”.

Muito interessante a colocação do apóstolo: façam morrer. Esse verbo “façam” é um verbo que tanto pode exprimir uma ordem direta como um acontecimento do presente ou do futuro ou ainda um desejo. Interpretações gramaticais a parte, em uma ou outra situação, é preciso, para continuar o caminho de busca das coisas do alto, que façamos morrer as coisas quem nós pertence à terra. Em outras palavras, mediante a ordem do apóstolo, devemos desejar e, ao mesmo tempo, concretizar no presente e no futuro (ou seja, durante toda a vida) esse fazer morrer continuamente para o pecado, pois essa é uma condição indispensável para ressuscitar com Jesus ainda aqui na terra, mas especialmente para a eternidade.

Na linguagem do novo testamento quase sempre que a palavra terra aparece ela significa tudo aquilo que está contraposto ao céu, morada de Deus. Portanto, tudo aquilo que pertence à terra permanece em contraposição a Deus e a tudo aquilo que Ele representa. Assim, para estar com Deus fazer morrer significa, antes de tudo, uma regeneração do homem terreno para ir, aos poucos, assumindo a condição de homem celeste.

E essa regeneração, sabemos todos nós, é contemplada, pela primeira vez, no santo batismo. Entretanto, pela própria dinâmica da vida, vamos perdendo a graça da regeneração. Não é que o batismo perda seu valor, uma vez que tudo aquilo que vem de Deus é irrevogável. Entretanto, essa graça batismal pode permanecer em nós como “dom morto” ou adormecido, precisando ser acordado. E esse acordar da graça batismal dentro de nós é o que chamamos de batismo no Espírito Santo, revivido repetidas vezes no RES e em tantos outros encontros de oração e formação do DJC.

Em outras traduções aparece a frase façam morrer é trocada pelo termo mortificai. A mortificação, dentro da fé católica, “é a luta contra as más inclinações, a fim de submetê-las à vontade de Deus. A mortificação não é um fim, mas um meio para o homem viver uma vida superior e não desejar ou ficar apegado aos bens terrenos” (Pe. Reinaldo Cazumbá).

E quais são as coisas terrenas? São Paulo as elenca com clareza: “fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir.... ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas”. Com a graça do Espírito Santo (a graça do batismo no Espírito Santo), à medida que vamos, no decurso da nossa vida e caminhada cristã mortificando tudo isso vamos, também, nos aproximando de Deus e buscando, cada vez mais, as coisas do alto e não as da terra. É um processo. Não é um passe de mágica. Vai ocorrendo na medida em que vamos amadurecendo na vida pessoal e de fé, bem como de acordo com a abertura do nosso coração para que Deus, silenciosamente, faça a sua parte.

Para encerramos a nossa breve reflexão de hoje, vejo como muita esclarecedora a nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém que afirma: “a obra da morte e ressurreição, operada pelo batismo de maneira instantânea e absoluta no plano místico da união com Cristo celestial, deve realizar-se de modo lento e progressivo no plano terrestre do velho mundo em que o cristão permanece mergulhado. Já morto em princípio, deve ele morrer de fato, “mortificando” dia a dia o “homem velho” do pecado que nele vive”.    


 Francisco Edmar
AGDI