Trúduo Pascal: momento de uma santa e eficaz catequese.



“E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados”. (1 Cor. 15,17)

Nesse período que compreende hoje, amanha e sábado celebraremos juntos o Tríduo Pascal, momento em que Jesus vence a morte através da sua ressurreição. Dias lindos que a cada ano a Igreja, seguindo mandato do próprio Cristo, nos faz recordar e guardar no coração. O Tríduo foi antecedido por outro tempo litúrgico maravilhoso: a quaresma. Nela foi possível preparar o coração e a mente e os nossos parentes e amigos para celebrarem os dias mais importantes do cristianismo.

Diante da realidade concreta do Tríduo Pascal somos levados a fazer algumas reflexões importantes.

A Igreja vive, por meio da fé, centralizada no sacramento da Eucaristia , de tal forma que ela “é a fonte e o ápice da vida cristã”. Tudo gira em torno dela. Todos os demais sacramentos e atividades eclesiais emanam dela e para ela convergem. Está é uma verdade incontestável da fé católica.

A quinta-feira santa é o grande dia em que recordamos, como Igreja no mundo todo, a Instituição da Eucaristia. Jesus ao celebrar aquele banquete, que tantas e repetidas vezes várias gerações de judeus já haviam realizado, faz algo novo. Celebra uma “velha nova ceia” que devido toda a sua riqueza e magnitude nem mesmo os apóstolos que lá estavam com ele conseguiram entender de imediato. Quem sabe levaram muito tempo para entender. Fez algo diferente: institui aquilo que passará a ser o centro da nossa fé cristã: o Sacramento da Eucaristia. É algo tão novo e surpreendente, tão profundo e maravilhoso que nós, séculos depois, temos dificuldade de apreender toda a riqueza daquele gesto.

Ao mesmo tempo, em toda a sua sabedoria, instituiu um ministério que pudesse celebrá-la com toda a dignidade e beleza que ela exige: o ministério sacerdotal. Então além de recordarmos a instituição da eucaristia, recordamos também a instituição da vocação sacerdotal. Vocação que quando vivida em toda a sua plenitude e beleza se enche de significado e frutos na vida de muita gente.

Porém, estas duas instituições, tão caras à Igreja no seu conjunto e para cada um de nós em particular, só ganham sentido em algo muito importante: a ressurreição de Jesus. Ele, que na quinta-feira havia instituído a Eucaristia e o Sacerdócio, não ficou preso na morte como todos os homens até aquele momento tinham experimentado. Não, ele ressuscitou. Venceu a morte. Nessa grande novidade é que a Eucaristia e o Sacerdócio ganham relevo e importância. Sem a ressurreição nem a Eucaristia e nem o sacerdócio teriam sentido. Todo o nosso discurso seria em vão. A nossa fé seria vã (1 Cor 15,17)

Nesta mesma quinta-feira Jesus dá uma prova indiscutível de sua humildade: lava os pés dos discípulos. Ele que é o Mestre lava os pés daqueles que deveriam lavar os seus. Ele que havia nascido do seio de Maria por Obra e Graça do Espírito Santo, que havia curado e libertado a tantos, que é o Filho de Deus, mostra o que realmente é ser servo de Deus. Se pelo menos uma pequena parte da Igreja, especialmente aqueles que têm responsabilidade maior dentro dela (inclusive eu), fizesse isso certamente a Igreja seria um sinal mais eficaz do poder de Deus em meio a sociedade.

Passamos a quinta-feira e chegamos à sexta-feira santa. Nela Jesus se entregará totalmente. Nela sofrerá as conseqüências de todos os males da humanidade, em todos os tempos e lugares. Dará a prova concreta de obediência ao Pai e de amor para com cada um de nós. Na verdade passados tantos séculos daquele acontecimento real, vivenciado de perto por tantas pessoas e relatadas nos evangelhos, fica difícil, sem a ajuda do dom da fé, entendermos e compreendermos todos aqueles acontecimentos. Sem o auxílio da fé caímos facilmente ou no romantismo ou no ceticismo. Porém, a fé nos leva a compreensão de toda a riqueza e extensão, ao longo da história, daquela entrega de Jesus naquela bendita tarde de sexta-feira.

Durante toda aquela noite de sexta-feira e todo dia de sábado permanecem silentes as vozes do céu. Jesus está morto. Porém, naquele bendita madrugada de sábado para domingo, as vozes se irrompem num grande glória, pois Jesus agora vive, Ele ressuscitou. Venceu a morte. Algo novo. Ninguém jamais havia ressuscitado, mas ele sim. O Filho de Deus está vivo, como havia prometido. E a partir dele todos aqueles que morrem não ficam mais presos na morte, mas podem viver eternamente junto com Ele e com o Pai. Algo realmente espetacular. O Sábado de Aleluia nos recorda justamente isso.

Não obstante a toda a riqueza desse Tríduo Pascal, que deve ser pregada de modo místico e profundo, muitos vão se apegar a “pregação da comparação” ou “pregação do carão”. Vão falar de quem não está ali, de quem viajou e de quem vai passar esses três ou quatro dias bebendo. Por mais que saibamos que isso é uma realidade extremamente deprimente e triste, ela não está sob o nosso controle. Deus concedeu às pessoas o livre arbítrio e não é a nossa má falação que vai mudar essa realidade, pois Sempre tivemos pessoas que agiram assim e teremos. Certamente hoje o número é bem maior do que antes, mas a nossa palavra e a nossa pregação não irão alcançá-los. Não conseguiram alcançar o restante do tempo (especialmente durante a quaresma) e muito menos agora.

Vejo o Tríduo Pascal como momento singular para mostrar aos cristãos que efetivamente estarão nas celebrações toda a riqueza desses dias e desses acontecimentos reais na vida de Jesus e como eles resplandeceram como luz na vida da Igreja ao longo dos séculos. As comparações não irão resolver nada e ainda tomar o lugar de uma santa e eficaz catequese.

Da mesma forma, esse não é o momento de falar mal dos familiares que não estão presentes não celebrações. Se não conseguimos convencê-los ao longo dos últimos meses, fatalmente não conseguiremos agora. É hora sim de vivenciarmos esses dias e mostrar na prática quão bom é estar na presença daquele que vencendo a morte, nos deixou de presente a Eucaristia e os sacerdotes.

Vivenciemos cada momento da semana santa e não precisaremos ficar fazendo comparações ou recorrendo àqueles que não estão presentes.
Graça e Paz.

Francisco Edmar
AGDI