Podemos esquecer-se de tudo, menos do anúncio fiel, atraente e com vistas no mundo real e atual, da Palavra de Deus




"No coração do anúncio está Jesus Cristo, professado e testemunhado. Transmitir a fé significa, no essencial, transmitir as Escrituras e, de um modo especial, o Evangelho que permite conhecer a Jesus, o Senhor." (Sínodo dos Bispos para a nova evangelização).

É preciso redescobrir, sempre com novo ardor, a importância da Palavra de Deus na propagação do Reino dos Céus. É inconcebível uma evangelização que não nasce e não converge para a Palavra de Deus.

Sendo bem mais preciso, não existe pregação verdadeira quando se prescinde do uso cotidiano e místico da Palavra de Deus, seja para a oração pessoal seja para a explicação pública (pregação) da Palavra de Deus. E isso acontece com frequência na Igreja, seja nas santas Missas seja nos encontros dos diversos grupos e movimentos: fala-se de tudo, menos da revelação de Deus expressa com toda a sua força e beleza por meio da Bíblia Sagrada. É uma grande contradição o que se faz hoje e é por isso que a evangelização não dá frutos duradouros.

Por isso, a Igreja, e também o DJC, podem esquecer-se de tudo, menos do anúncio fiel, atraente e com vistas no mundo real e atual, da Palavra de Deus. Em cada Fraternidade Cristã e em cada Siloé, ou qualquer outro evento que o DJC promova, isso não pode ser esquecido, sob pena de estarmos perdendo o fio da meada da evangelização.

Sem o anúncio coerente e cheio de unção da Palavra pode até existir evangelização, mas ela não passa de um estereótipo enganador e que não possui a força e a beleza da conversão e da salvação, assim como muitos doutores da lei faziam na época de Jesus. Cristo evangelizava através da pregação, do anuncio do Reino de Deus. Jesus não ensinava como os outros, mas com autoridade (Mc 7,29). E a Palavra dele convertia a muitos. Devemos seguir o seu exemplo.

Os Siloés, com o tempo e sem a devida preocupação com o anúncio da Palavra, podem se transformar em ambientes estéreis, ou seja, sem fecundidade. O povo vai, participa, mas volta seco, às vezes pior do que chegaram. Os servidores vão, mostram-se presentes, mas na prática não existem frutos duradouros. E também vão perdendo o sentido e a direção da caminhada cristã.

A Palavra de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, anunciam Cristo. Por isso, quando se prega a Palavra de Deus, seja ela contida na Antiga ou na Nova Aliança, está se anunciando Cristo, aquele que realmente salva, cura e liberta, como lemos acima na exortação sinodal dos bispos sobre a nova evangelização.

Certamente as orações são de extrema importância, mas elas próprias nascem e subsistem com a força da Palavra de Deus. Portanto, elas são, na sua essência, uma preparação e a culminância da pregação. Quando se colocam antes da pregação as orações preparam os corações para receber a Palavra; quando depois, as orações são o coroamento da pregação que foi realizada. O foco sempre é a pregação, porque ela é a Palavra de Deus e, mais precisamente, o próprio Deus.

Para atingir seu objetivo as pregações devem, ao mesmo tempo, ser ungidas e calar fundo na realidade de cada pessoa. Não pode existir pregação espiritualista (diferente daquela que é ministrada com unção), sem nexo com a realidade dos discípulos, uma vez que a Palavra de Deus é sempre atual e deve atingir o coração de quem está escutando o mais próximo possível da realidade cotidiana.


Criar um mundo irreal, que não existe, dentro da pregação, não é nada bom. Os discípulos começam a viver um mundo que é fictício e, mais cedo ou mais tarde, tendem a abandonar a caminhada. Dizer que tudo é fácil e que o discípulo não vai encontrar nenhum problema e que tudo será resolvido pelo Espírito Santo, sem o esforço e também sacrifícios pessoais, é algo extremamente maléfico.

Perscrutando as passagens bíblicas percebe-se que não existe facilidade para quem se predispõe a seguir os passos do Salvador. Portanto, a pregação não pode caminhar em rota de colisão com a Palavra de Deus. O mundo da Bíblia é um mundo muito real e contrário a obra de Salvação de Deus. Se isso não fosse verdade não existiria a necessidade da evangelização.

Sabemos que para que a Palavra fecunde é necessário que a pessoa que recebe também se abra à graça. Mas quando a palavra é anunciada com unção e pautada na luta diária pela salvação, se torna mais fácil o seu acolhimento, embora alguns permaneçam sem acolher.

Cristo sempre fazia isso. Por isso, em diversas ocasiões, sobretudo em exortações e parábolas, utilizava linguagem e figuras muito próximas da realidade do povo (ligadas ao campo, aos animais e plantas), de tal modo que eles pudessem além de olhar para o céu e enxergarem a salvação, mas também pudessem também olhar ao seu redor e contemplar as maravilhas da criação, as maravilhas de Deus.

Certamente, as pregações, buscando atingir a realidade do povo, não podem ser secas e desprovidas de sentido. Caso sigam por esse caminho se transformam é um saco cheio de vento. São dois riscos, uma pregação espiritualidade e a outra sem nexo cotidiano, que devem ser, ao máximo, evitados.

Que Deus nos ajude nessa difícil caminhada de discernimento, sempre tendo em vista a salvação pessoal e comunitária. Mas bem sabemos que nunca seremos abandonados pelo Espírito Santo, pois é Ele que guia toda a caminhada cristã.

Francisco Edmar
MGDI