Dicernimento na Caminhada Cristã I


“Apenas o homem, entre todos os seres vivos, pode gloriar-se de ter sido... dotado de razão, capaz de entendimento e discernimento, regulará sua conduta dispondo de liberdade e de razão, na submissão àquele que tudo lhe confiou” (CIC nº 1951)

Certa vez, em uma de suas caminhadas, Jesus foi abordado pelos doutores da Lei e pelos fariseus. Eles lhe disseram: “Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?”(Jo 8,4). A pergunta, muito claramente, estava carregada de um desejo muito grande de pegar Jesus pela palavra ou por um ato qualquer e, deste modo, ter um motivo para acusá-lo e prendê-lo.

A situação para Jesus era muito complicada. Se ele dissesse que podia apedrejá-la estaria negando tudo àquilo que já tinha anunciado. Se, pelo contrário, afirmasse que não podia apedrejar estaria comprando uma grande briga com os fariseus, que tinham a lei de Moisés a seu favor.

No entanto, num momento tal delicado Jesus teve uma atitude inusitada. Ela, por si só, já começou a desconcertar os acusadores: “então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo” (Jo 8,6). Porém, eles continuaram. Foi neste momento que Jesus disse: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra” (Jo 8,7). Frase espetacular. Todos ficaram olhando uns para os outros, sem palavras. Depois, um por um, a começar pelos mais velhos, foram saindo e deixando aquela mulher sozinha na companhia de Jesus (Jo 8,8). Com um simples ato e com uma simples frase Jesus continuou fiel à sua pregação e salvou a vida daquela mulher. Que discernimento perfeito.

Discernimento é isso: é fazer uma apreciação, julgar e decidir uma situação com os olhos da razão e, sobretudo, da fé. O cristão, ao fazer uso do dom do discernimento dos espíritos, está colocando o seu pensamento para ser guiado pelo horizonte maior e sublime da fé. Agindo desta forma, os seus passos estarão firmados na rocha que é Jesus e as decisões que tiver que tomar darão sempre bons frutos.

No entanto, para melhor compreender esta passagem do evangelho acima citada, peço que retomemos o começo do capítulo 8 do evangelho de São João. Dois fatos são significativos.

O primeiro deles é que Jesus havia ido ao monte das oliveiras (Jo 8,1). O monte das oliveiras era um dos lugares preferidos de Jesus para a oração. Lá Ele encontrava um espaço propício para uma conversa pessoal e profunda com o Pai. Foi o lugar escolhido pelo Senhor para, diante da grande dor de sua vida terrena, pedir ao Pai que lhe ajudasse (Lc 22,39).

O segundo, e não menos importante, é que no exato momento que trouxeram à mulher até Jesus Ele estava ensinando (Jo 8,2). Cheio do Espírito Santo, e como de costume, Jesus estava ensinando, falando ao povo a respeito das maravilhas do Reino de Deus. Foi no momento do ensinamento que Jesus foi exigido a agir.

São estes dois pilares (oração e ensinamento) que devem sustentar o nosso discernimento cristão. Aprendendo com o Mestre, esse é o caminho que devemos trilhar, pois estas situações ocorrem também conosco. Em nossas pregações e formações, bem como nos nossos acompanhamentos personalizados somos exigidos, por circunstâncias extremamente variadas, a tomar uma posição, a orientar de acordo com os ensinamentos de Cristo e da Igreja. E, seguindo os passos de Jesus, temos que ter as palavras e atitudes certas para os momentos certos.

No próximo texto entraremos mais detalhadamente na realidade de discernimento na caminhada DJC.

Graça e Paz!

Francisco Edmar
Ministro Geral de Desen. Integral

Devemos valorizar os que são de casa


“Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, saiu desse lugar, e voltou para a sua terra. Ensinava as pessoas na sinagoga, de modo que ficavam admiradas. Diziam: «De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram conosco? Então, de onde vem tudo isso?» E ficaram escandalizados por causa de Jesus. Mas Jesus disse: «Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família.» E Jesus não fez muitos milagres aí, por causa da falta de fé deles”. (Mt 13,53-57)

A Igreja é, na terra, a grande família dos filhos de Deus. No sangue de Cristo formamos uma unidade de fé, de tal forma que não podemos pertencer à sua Igreja e permanecermos, individualmente ou coletivamente, isolados. Simplesmente não prosperaríamos e o nosso trabalho de evangelização perderia o seu sentido. Só encontramos a razão de ser da nossa evangelização, a “seiva elaborada” do “ser e fazer discípulos”, dentro da unidade eclesial.

Mesmo que isso nos custe muito, dada a complexidade que envolve as relações humanas, deveremos sempre cultivar a dimensão da eclesialidade, seja com as pastorais instituídas pela Santa Mãe Igreja, seja com os diversos outros organismos que dela fazem parte. Esta é uma verdade inconteste desde os inícios do DJC. Repito apenas para puder alicerçar a reflexão que pretendo fazer, uma vez que, nem sempre, conseguimos diferenciar unidade (acima exposto) de uniformidade.

A Igreja pede de todos os seus organismos uma unidade na diversidade e não uma uniformidade. Se assim não fosse a própria Igreja perderia a sua beleza e, porque não dizer, a sua eficácia na evangelização, pois se ela consegue chegar aos mais longínquos lugares e aos mais variados setores da sociedade é porque se vale, justamente, da sua diversidade carismática, animada pelo próprio Espírito Santo.

Não confundir unidade com uniformidade significa, antes de tudo, “saber quem somos e para onde queremos ir”. Significa, portanto, ter identidade. E a identidade só é cultivada no calor das relações e na vida de oração da própria comunidade de fé. É cultivada, ainda, na valorização e respeito pelos irmãos de caminhada, vendo-os com os olhos de Cristo, enxergando-os como eleitos de Deus para uma missão própria.

Se nós não valorizarmos os que são de casa, ou seja, quem está mais próximo a nós, quem virá fazer isso em nosso lugar?

Nenhum Organismo da Igreja cresce somente dependendo de ajuda de fora. Qualquer que seja o nível de organização ele tem que ter pessoas certas para coisas certas, pois “o que fica com todo mundo não fica com ninguém”. Não que a ajuda de fora, por si só, seja ruim. Isto, desde sempre, já ficou bem claro para todos nós. Aprendemos com tudo de bom que a Igreja nos oferece. No entanto, se os outros lugares têm algo de bom para nos oferecer é porque um dia os carismas foram cultivados e as pessoas foram valorizadas. O DJC precisa trilhar o mesmo caminho. Foi para isso que fomos constituídos pelo Senhor Jesus.

Portanto, a grande questão que quero colocar para nossa meditação, é que o DJC quer permanecer, até a Parusia de Jesus, como Movimento Católico de evangelização. Para tanto, precisa formar uma Equipe de Servidores (sejam eles DCAs ou não), espalhados nos Apostolados e Discipulados Específicos que, fazendo uso do carisma concedido por Deus, sejam capazes de edificar a Igreja através do seu serviço dento do DJC.

E a formação desta Equipe de Servidores passa, necessariamente, pela valorização daqueles nossos irmãos e irmãs aos quais Deus concedeu um carisma específico (seja ele de música, oração, pregação, liturgia, acolhida, ambientação e etc).

E valorizar uma pessoa que recebeu um carisma quer dizer colocá-la para servir. Uma vez comprovado que a pessoa tem o carisma, ama o DJC e valoriza a sua identidade, nada mais justo e sábio do que colocá-la para servir e edificar o Reino de Deus através do seu ministério dentro do DJC. É no exercício do seu carisma que o discípulo vai crescendo na Graça de Deus. Quando não agimos desta forma acabamos por reprimir o Espírito Santo e, conseqüentemente, desvalorizando a ação de Deus em nosso meio. E, no final, quem mais perde é o próprio DJC.

Por isso, cada Conselheiro e Coordenador, com muito discernimento, deve valorizar os carismas que Deus nos deu. Dentro do próprio DJC já são vários os casos que, sem ninguém dá nada por determinada pessoa, ela despontou e hoje é uma benção para todos nós.

É importante ficar bem claro que nossa missão só será sustentada se continuarmos formando novos discípulos para Jesus. A própria Igreja de Jesus só está no meio da humanidade até hoje por conta disso. Foi o próprio Jesus quem iniciou esta santa dinâmica quando, sabendo que iria ser entregue, escolheu doze Apóstolos que deram formaram o primeiro núcleo da Igreja (Mc 3,16). Os Apóstolos, seguindo os passos de Jesus, fizeram a mesma coisa (At 1, 15-25). Existiam na época de Jesus, sem sombra de dúvidas, pessoas mais capacitadas, com o discurso mais bonito. No entanto, o Senhor só poderia contar com aqueles pobres homens. E, na sua misericórdia, Deus os auxiliou.

Devemos ter no nosso coração esta mesma mística de multiplicação de discípulos. Essa é a nossa missão específica como Movimento Católico de Evangelização (2Tm 2,1-2). O Discipulado só irá crescer e permanecer até a Segunda Vinda de Jesus se formos capazes de fazer isso. Caso contrário, quando os mais antigos começarem a morrer, o DJC poderá morrer com eles. Deus nos livre desta desgraça!

É só colocar na cabeça que não somos insubstituíveis e nem eternos. Não podemos cair no pecado dos moradores da Cidade de Nazaré (cidade natal de Jesus). Lá foi o único lugar que Jesus não realizou milagres pela falta de fé deles na pessoa de Jesus, pelo simples fato de ele ser seus conterrâneos. Esta atitude deixou Jesus muito triste (Mt 13,53-57).

As pessoas que estão mais próximas a nós devem ser as mais valorizadas. Mesmo com todos os pecados e fraquezas são elas que no dia-a-dia estão conosco, nos ajudando na missão. Isso não nos incentiva à divisão ou ao fechamento e isolamento. Pelo contrário, é uma exortação para que possamos cumprir, de todo coração e com toda a unção, a missão que nos foi confiada por Jesus Cristo.

Graça e Paz a todos!

Francisco Edmar de S. Silva
Ministro Geral de Desenvolvimento Integral

O jovem precisa de referências


"Um jovem se aproximou, e disse a Jesus: «Mestre, que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?" (Mt 19, 16)

Todos nós, independente do estágio de vida onde nos encontramos, precisamos de boas referências para encaminhar a nossa vida pelos caminhos corretos da vida e da fé. Más referências, num primeiro momento muito coloridas e atraentes, pouco tempo depois se mostram incapazes de preencher o nosso ser da verdadeira paz e alegria que brotam do coração de Jesus.

No entanto, é inegável, tanto do ponto de vista psicológico como espiritual, que os jovens carecem muito mais destas boas referências. Quando nos encontramos nesta fase da vida pensamos ser super-heróis, que tudo e todos estão errados e que somente nós somos portadores da verdade e da razão. Esta euforia juvenil pode nos induzir a trilhar caminhos tortuosos, que não raras vezes não têm volta.

Por isso, boas referências são fundamentais para um desenvolvimento juvenil equilibrado. Elas possuem o seu fundamento no convívio familiar, mas também devem ser repassadas pela escola, pela Igreja, pela mídia e etc. Infelizmente, algumas destas instituições não estão correspondendo à sua responsabilidade.

Grande parte das famílias não possui mais o senso do divino e, portanto, não consegue repassar os bons valores que vão nortear um crescimento maduro e saudável do jovem. Bombardeada pelos pelas ‘miragens de felicidade’ do mundo moderno, ela nem sempre coloca em prática a sua missão educadora. Por isso, não é a toa que a violência, dentro e fora de casa, tem aumentado de modo assustador nas últimas décadas, a despeito da melhoria das condições de vida e das facilidades da vida moderna.

A escola, espaço da educação formal, também abicou da vocação de transmissão dos bons valores aos jovens. Não querendo ser vista como uma instituição retrograda assume uma postura ‘moderna’, em detrimento de uma formação humana mais aprofundada de seus alunos. Muitos professores e dirigentes escolares demonstram aversão completa a qualquer modelo de ensino que não “esteja na moda”. Na sua ignorância simplesmente repetem para os seus alunos o modelo de sociedade falida que está em vigor.

A mídia, por sua vez, patrocinada pelas grandes corporações empresariais, tem tentado, a todo custo, alardear um estilo de vida meramente hedonista e consumista. Não há na TV brasileira, com exceção de alguns canais estatais e de canais administrados por entidades religiosas, uma programação que estimule os jovens a cultivarem uma responsabilidade pessoal e coletiva, bem como um crescimento, em todas as dimensões, sadio e equilibrado.

Pelo contrário, a programação tem estimulado de modo ininterrupto o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro (meio caminho andado para drogas mais pesadas), a competição a todo custo, o descompromisso com o namoro e o casamento, uma vida sexual desregrada, uma vida pautada em festas e orgias, preocupação apenas com a vida profissional e etc.

Apesar de excelentes experiências, alguns setores da Igreja, por seu turno, nem sempre têm se colocado como deveriam na educação e formação dos jovens. As pastorais, grupos e movimentos dedicados à evangelização dos jovens nem sempre propagam uma mensagem diferente daquela que é alardeada pela sociedade. Muitas das vezes falta coragem e parresia para anunciar aos nossos jovens que existe uma possibilidade, sem perder a riqueza desta fase da vida, de uma vivência pessoal e social diferente.

O fracasso da evangelização da juventude, na maior parte das vezes, é fruto da falta de amor (é isso mesmo) de quem está com o leme da evangelização na mão, pois se o capitão do barco não encoraja os seus marinheiros a se sacrificarem para que o barco não naufrague, como esperar que eles acordem para a realidade em que estão metidos?

Da mesma forma se, no trabalho de evangelização, a pessoa que está à frente não é a primeira a demonstrar felicidade e alegria naquilo que faz, como esperar que os outros se entusiasmem pela mesma causa? Se o responsável sempre está atolado de coisas para fazer e destina somente o sobejo do seu tempo para a evangelização, como esperar que os demais membros deixem de lado os seus afazeres terrenos (e, portanto, passageiros) para se dedicarem aos afazeres celestes (fundamento dos primeiros)? Se não há uma busca pela novidade inspirada pelo Espírito Santo, como esperar que a evangelização não afunde na mesmice? Se não há uma pescaria constante como não esperar que, em termos quantitativos, a FVC vá definhando? E assim sucessivamente.

Estes são apenas alguns questionamentos. Existem vários outros. Quem está com ‘o leme na mão’ deverá se preocupar com eles, buscando sempre a solução.

Se quem está à frente da evangelização não se torna, por meio de palavras e ações, referência para os demais jovens, o trabalho de evangelização esbarra na mesmice, na falta de motivação e testemunhos vivos. E, aos poucos, todos vão se dispersando: uns mudam de igreja... outros de movimento ou pastoral... outros ainda, o que é pior, abandonam completamente a fé e enveredam pelos caminhos da perdição... outros permanecem, mas sem grandes motivações.

É necessário ter muita coragem, unção e parresia para, a partir de Cristo e dos ensinamentos da Igreja, oferecer um SANTO CAMINHO aos jovens. O DJC Jovens não poderá abdicar desta sua prerrogativa.

O Discipulado no seu conjunto espera muito do DJC Jovens. É dele que sairão os novos evangelizadores, pregadores, ministros de oração, coordenadores, conselheiros, acompanhantes locais e etc.

Que o Senhor ilumine o DJC Jovens na sua missão específica. Que Maria interceda por cada jovem para que perseverem nos caminhos santos. E que São Paulo, o apóstolo missionário, interceda por cada coordenador e conselheiro para que possam evangelização com toda unção, amor e parresia.

Graça e Paz!

Fugi da ganância II



Em continuação a nossa meditação sobre a situação de miséria dos filhos de Deus, fruto da ganância de poucos, muitos pessoas dizem: isso é dever do estado.

Pode até ser, mas o estado, em si mesmo é uma abstração jurídica, que, sem povo, não passa de teoria. O estado, nada mais é, do que uma entidade jurídica, composta de leis e regulamentos, que regem um determinado espaço geográfico que é reconhecido pelos demais países como uma entidade soberana.

Não existiria estado se não existisse o ser humano. O estado, tal qual como conhecemos, é uma criação humana. Um cavalo ou uma vaca não cria e nem administra um estado. Não cria leis e regulamentos além daqueles que já estão gravados dentro do seu instinto animal de sobrevivência.

Se o estado inexistiria na ausência da espécie humana, logo a responsabilidade pelo bem de todos é de todos nós, seres humanos.

Se pessoas passam fome é porque somos complacentes. Se pessoas morrem nas filas de espera de hospitais é porque somos cúmplices. Seja de modo direto (autoridades legalmente constituídas) ou indireto (cada um de nós), toda a sociedade tem culpa na desgraça de muitos que, nem para mais nem para menos, são exatamente iguais a nós perante Deus e, até mesmo, perante o tão propalado estado de direito.

E por que nada é feito? Falta de vontade, falta de luta e falta de empenho coletivo. É cada qual cuidando do seu umbigo, dos seus interesses, do seu patrimônio, do seu bem estar.

E os outros? Os outros são sempre os outros e não eu. Ele que se cuide. Ele que busque o seu “lugar ao sol”. Ele que, através do seu trabalho e da sua dedicação, faça por merecer! Esta é a mentalidade reinante, mesmo entre alguns cristãos (E o Cristo nos ensinou?).

Só agimos desta forma porque não se trata de alguém da sua família, de uma pessoa que você conhece e ama. Quando isso ocorre logo fazemos tudo que está ao nosso alcance. Mas será que, mesmo sem muitas posses, não poderíamos fazer algo mais. Ajudar um vizinho, um parente. Se todos nós fizéssemos um pouquinho a mais será que haveria tanta fome e miséria?

O sistema, meu irmão, é cruel. Os poucos ricos vivem da pobreza de muitos. E isso se explica por um princípio físico-matemático: para ter muito em um lugar é necessário ter pouco em outro. Se só existem dois sapatos (um par) eles não poderão calcar quatro pés. É algo lógico, mas que poucas pessoas falam.

E quando alguém quer ser diferente? É doido. Não está pensando no futuro. Não está enxergando a realidade tal como ela é. É, simplesmente, excluído do seu grupo de amigos.

Se isso não for feito de modo claro, é feito de modo implícito, através de colocações maliciosas, revestidas de raríssima inteligência.

Às vezes fico pensando onde vamos parar. Pensando se sempre foi assim e se nada vai mudar. Chego à triste conclusão que desde que o homem é homem (mais precisamente desde o momento que se afastou do Criador) ele é assim. E caso não haja uma conversão coletiva que comece em cada coração, nada vai mudar. Tudo continuará como está. E porque não dizer que, por tudo aquilo que temos visto, vai piorar. Não se trata de uma visão pessimista ou apocalíptica, mas de uma leitura da realidade. Posso estar errado, mas está é a minha visão.

Vejamos bem o que Jesus falou: “ATENÇÃO! TENHAM CUIDADO COM QUALQUER TIPO DE GANÂNCIA. PORQUE, MESMO QUE ALGUÉM TENHA MUITAS COISAS, A SUA VIDA NÃO DEPENDE DE SEUS BENS” (Lc 12, 15).

Esta passagem da Sagrada Escritura está em letras garrafais e em negrito para que nenhum de nós esqueçamo-nos disso. Como cristão não podemos agir de modo diferente do nosso mestre, pois incorreremos em contradição performativa.

Tenhamos o básico para viver e procuremos, no possível, e em alguns casos no impossível, ajudar aos nossos irmãos, pois somos filhos do mesmo Pai e companheiros de Pátria Celeste. Parece simplório e repetitivo, mas se cada um de nós fizermos um pouquinho tudo será transformado.

Por fim me pergunto se não estou sendo apelativo demais. No entanto, penso que podemos ser apelativos de dois modos. O primeiro é fazendo uso de algo mentiroso. E o segundo é fazendo uso de algo real. Como tenho consciência de que se trata do segundo fico mais a vontade. Além disso, apelo é sinônimo de invocação, chamamento, convite ou sugestão para se prestar auxílio. E se é desta forma sejamos todos apelativos.

Encerro com uma pequena história real que vivenciei em sala de aula.

Outro dia desses, numa aula, estava falando da concentração de renda. Explicava que parecia absurdo um jogador de futebol ganhar mais de 1 milhão de reais por mês. Antes de terminar o meu raciocínio um aluno replicou: mas ele merece professor. Veja bem a frase: ele merece. Diante da intervenção se abateu sobre mim dois sentimentos: tristeza e compaixão.

Tristeza porque demonstra um certo grau de ignorância de uma pessoa que está numa sala de aula e, supostamente, deveria ter mais consciência da realidade que o cerca. Compaixão porque é um sentimento cristão e, ao mesmo tempo, que brota do coração de todo professor diante de algumas situações.

Logo depois perguntei a ele: quanto o seu pai ganha por mês? – ele respondeu: um salário mínimo. Prossegui: ele trabalha quantos dias por semana? – de segunda a sábado. De que horário? – de oito da manhã às cinco da tarde.

Os sentimentos aumentaram. É muita cegueira.

Aí perguntei: já que você me respondeu que o jogador merece, pergunto se o seu pai não merece? – ele respondeu: acho que sim. Ô meu Deus! Quanta ignorância! E por que ele não ganha? – ele não soube responder.

Onde vamos parar?

Depois fiquei sabendo que é o salário mínimo que o seu pai recebe ainda vem com descontos. Desta forma, ao final do mês, ele não recebe nem sequer um salário mínimo completo. Porém, mesmo este fato não é suficiente para abrir os seus olhos. Que pena.

Mas, infelizmente, a sociedade apregoa que está tudo bem. Que não tem nada demais. Entretanto, como cristão, sabemos que tem sim muita coisa. Muita coisa errada que precisa ser modificada.

Que o Senhor Jesus nos ajude a fugir da ganância que gera, por onde passa, desgraça na vida de muitos, em detrimento da boa vida de poucos.

Graça e Paz.

Fugi da ganância I


“Depois Jesus falou a todos: “ATENÇÃO! TENHAM CUIDADO COM QUALQUER TIPO DE GANÂNCIA. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.” E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus” (Lc 12,15-21).

Você já parou para pensar quantas pessoas passam fome no planeta terra? Quantos irmãos e irmãs nossos morrem todo dia por inanição (por falta de alimentação)? Quantas morrem porque não tem como pagar um tratamento médico adequado? Quantas pessoas padecem porque não possuem uma moradia digna ou um trabalho que não os explore até a exaustão?

Como você é uma pessoa inteligente e antenada nas notícias que correm pelo mundo através dos meios de comunicação, acho que sim. Isso acontece todos os dias em várias partes do planeta. É só acessar os sites de notícias e de ONG’s, bem como buscar vídeos e fotos na internet e lá estão estas cenas horrendas, de partir o coração de qualquer um.

Talvez perto da sua casa, de modo menos claro, aconteça isso. Talvez você já tenha ouvido falar de algo parecido no seu bairro, na sua cidade. Sobretudo quem mora em grandes centros urbanos, certamente, já deve ter se deparado com situações como essas.

Pois bem, vendo um destes programas veiculados na mídia me deparei com o quadro intitulado “As coisas mais caras do mundo”.

Custei para acreditar, mas a apresentadora dizia o seguinte: para os ricaços um esmalte (que custa R$ 2,50 no Brasil) chega a custar de 180 a 250 reais no mundo a fora. E explicava que o preço era tão alto porque é o mesmo esmalte usado pela atriz Angelina Julie. É algo padronizado e, pelo simples fato de ter sido utilizado por ela, vale uma fortuna. Que absurdo

Outra informação dava conta de que alguns hambúrgueres (que normalmente custam mais ou menos de 5 a 10 reais) chegam a ser comprados por R$ 300,00.

No entanto, isso não é tudo. O mais absurdo e, porque não dizer uma afronta a pobreza do mundo, vem agora.

Sapatos que podem custar R$ 300.000 reais (é isso mesmo).... doces que podem custar R$ 15.000... carros que chegam a custar oito milhões de reais pelo simples fato de serem estilizados.

Muitas pessoas não acreditam. Pesam se tratar apenas de marketing das empresas. Prefiro, porém, acreditar que neste mundo de ambição e desejo constante de ostentação tudo é possível. Caso contrário, não creio que fosse exposto em rede nacional.

Polêmicas a parte, a situação ao nosso redor cada vez mais se estraga. A situação é tão grave que muitos setores da sociedade já entraram em estado de putrefação moral. Só para citar um exemplo podemos nos referir à classe política. É um escândalo atrás do outro. Denúncias de corrupção, desvio de verbas, perseguição a adversários, assassinatos, processos licitatórios direcionados são apenas a ponta do iceberg da corrupção.

No entanto, também podemos citar os empresários que enriquecem às custas da morte lenta enfrentada pelos trabalhadores por conta das péssimas condições de trabalho, transporte, moradia, segurança, saúde, escola e etc. Depois vem os sindicatos, algumas entidades religiosas.....

A situação de pobreza só aumenta... aumenta a violência... falta de qualidade de vida...

O sistema é assim. E é assim porque o ser humano é assim: ambicioso, soberbo, gosta de ostentar e de quere ser mais do que os outros. E ele só é assim porque ainda não conheceu de verdade o mestre de Nazaré: Jesus Cristo.

Não se deixaram ainda vencer pelo seu amor e humildade. Pelo seu desejo de ajudar o próximo. Pela sua escolha preferencial pelos pobres e marginalizados.

Graça e Paz!