Devemos valorizar os que são de casa


“Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, saiu desse lugar, e voltou para a sua terra. Ensinava as pessoas na sinagoga, de modo que ficavam admiradas. Diziam: «De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram conosco? Então, de onde vem tudo isso?» E ficaram escandalizados por causa de Jesus. Mas Jesus disse: «Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família.» E Jesus não fez muitos milagres aí, por causa da falta de fé deles”. (Mt 13,53-57)

A Igreja é, na terra, a grande família dos filhos de Deus. No sangue de Cristo formamos uma unidade de fé, de tal forma que não podemos pertencer à sua Igreja e permanecermos, individualmente ou coletivamente, isolados. Simplesmente não prosperaríamos e o nosso trabalho de evangelização perderia o seu sentido. Só encontramos a razão de ser da nossa evangelização, a “seiva elaborada” do “ser e fazer discípulos”, dentro da unidade eclesial.

Mesmo que isso nos custe muito, dada a complexidade que envolve as relações humanas, deveremos sempre cultivar a dimensão da eclesialidade, seja com as pastorais instituídas pela Santa Mãe Igreja, seja com os diversos outros organismos que dela fazem parte. Esta é uma verdade inconteste desde os inícios do DJC. Repito apenas para puder alicerçar a reflexão que pretendo fazer, uma vez que, nem sempre, conseguimos diferenciar unidade (acima exposto) de uniformidade.

A Igreja pede de todos os seus organismos uma unidade na diversidade e não uma uniformidade. Se assim não fosse a própria Igreja perderia a sua beleza e, porque não dizer, a sua eficácia na evangelização, pois se ela consegue chegar aos mais longínquos lugares e aos mais variados setores da sociedade é porque se vale, justamente, da sua diversidade carismática, animada pelo próprio Espírito Santo.

Não confundir unidade com uniformidade significa, antes de tudo, “saber quem somos e para onde queremos ir”. Significa, portanto, ter identidade. E a identidade só é cultivada no calor das relações e na vida de oração da própria comunidade de fé. É cultivada, ainda, na valorização e respeito pelos irmãos de caminhada, vendo-os com os olhos de Cristo, enxergando-os como eleitos de Deus para uma missão própria.

Se nós não valorizarmos os que são de casa, ou seja, quem está mais próximo a nós, quem virá fazer isso em nosso lugar?

Nenhum Organismo da Igreja cresce somente dependendo de ajuda de fora. Qualquer que seja o nível de organização ele tem que ter pessoas certas para coisas certas, pois “o que fica com todo mundo não fica com ninguém”. Não que a ajuda de fora, por si só, seja ruim. Isto, desde sempre, já ficou bem claro para todos nós. Aprendemos com tudo de bom que a Igreja nos oferece. No entanto, se os outros lugares têm algo de bom para nos oferecer é porque um dia os carismas foram cultivados e as pessoas foram valorizadas. O DJC precisa trilhar o mesmo caminho. Foi para isso que fomos constituídos pelo Senhor Jesus.

Portanto, a grande questão que quero colocar para nossa meditação, é que o DJC quer permanecer, até a Parusia de Jesus, como Movimento Católico de evangelização. Para tanto, precisa formar uma Equipe de Servidores (sejam eles DCAs ou não), espalhados nos Apostolados e Discipulados Específicos que, fazendo uso do carisma concedido por Deus, sejam capazes de edificar a Igreja através do seu serviço dento do DJC.

E a formação desta Equipe de Servidores passa, necessariamente, pela valorização daqueles nossos irmãos e irmãs aos quais Deus concedeu um carisma específico (seja ele de música, oração, pregação, liturgia, acolhida, ambientação e etc).

E valorizar uma pessoa que recebeu um carisma quer dizer colocá-la para servir. Uma vez comprovado que a pessoa tem o carisma, ama o DJC e valoriza a sua identidade, nada mais justo e sábio do que colocá-la para servir e edificar o Reino de Deus através do seu ministério dentro do DJC. É no exercício do seu carisma que o discípulo vai crescendo na Graça de Deus. Quando não agimos desta forma acabamos por reprimir o Espírito Santo e, conseqüentemente, desvalorizando a ação de Deus em nosso meio. E, no final, quem mais perde é o próprio DJC.

Por isso, cada Conselheiro e Coordenador, com muito discernimento, deve valorizar os carismas que Deus nos deu. Dentro do próprio DJC já são vários os casos que, sem ninguém dá nada por determinada pessoa, ela despontou e hoje é uma benção para todos nós.

É importante ficar bem claro que nossa missão só será sustentada se continuarmos formando novos discípulos para Jesus. A própria Igreja de Jesus só está no meio da humanidade até hoje por conta disso. Foi o próprio Jesus quem iniciou esta santa dinâmica quando, sabendo que iria ser entregue, escolheu doze Apóstolos que deram formaram o primeiro núcleo da Igreja (Mc 3,16). Os Apóstolos, seguindo os passos de Jesus, fizeram a mesma coisa (At 1, 15-25). Existiam na época de Jesus, sem sombra de dúvidas, pessoas mais capacitadas, com o discurso mais bonito. No entanto, o Senhor só poderia contar com aqueles pobres homens. E, na sua misericórdia, Deus os auxiliou.

Devemos ter no nosso coração esta mesma mística de multiplicação de discípulos. Essa é a nossa missão específica como Movimento Católico de Evangelização (2Tm 2,1-2). O Discipulado só irá crescer e permanecer até a Segunda Vinda de Jesus se formos capazes de fazer isso. Caso contrário, quando os mais antigos começarem a morrer, o DJC poderá morrer com eles. Deus nos livre desta desgraça!

É só colocar na cabeça que não somos insubstituíveis e nem eternos. Não podemos cair no pecado dos moradores da Cidade de Nazaré (cidade natal de Jesus). Lá foi o único lugar que Jesus não realizou milagres pela falta de fé deles na pessoa de Jesus, pelo simples fato de ele ser seus conterrâneos. Esta atitude deixou Jesus muito triste (Mt 13,53-57).

As pessoas que estão mais próximas a nós devem ser as mais valorizadas. Mesmo com todos os pecados e fraquezas são elas que no dia-a-dia estão conosco, nos ajudando na missão. Isso não nos incentiva à divisão ou ao fechamento e isolamento. Pelo contrário, é uma exortação para que possamos cumprir, de todo coração e com toda a unção, a missão que nos foi confiada por Jesus Cristo.

Graça e Paz a todos!

Francisco Edmar de S. Silva
Ministro Geral de Desenvolvimento Integral