Dicernimento na Caminhada Cristã I


“Apenas o homem, entre todos os seres vivos, pode gloriar-se de ter sido... dotado de razão, capaz de entendimento e discernimento, regulará sua conduta dispondo de liberdade e de razão, na submissão àquele que tudo lhe confiou” (CIC nº 1951)

Certa vez, em uma de suas caminhadas, Jesus foi abordado pelos doutores da Lei e pelos fariseus. Eles lhe disseram: “Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?”(Jo 8,4). A pergunta, muito claramente, estava carregada de um desejo muito grande de pegar Jesus pela palavra ou por um ato qualquer e, deste modo, ter um motivo para acusá-lo e prendê-lo.

A situação para Jesus era muito complicada. Se ele dissesse que podia apedrejá-la estaria negando tudo àquilo que já tinha anunciado. Se, pelo contrário, afirmasse que não podia apedrejar estaria comprando uma grande briga com os fariseus, que tinham a lei de Moisés a seu favor.

No entanto, num momento tal delicado Jesus teve uma atitude inusitada. Ela, por si só, já começou a desconcertar os acusadores: “então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo” (Jo 8,6). Porém, eles continuaram. Foi neste momento que Jesus disse: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra” (Jo 8,7). Frase espetacular. Todos ficaram olhando uns para os outros, sem palavras. Depois, um por um, a começar pelos mais velhos, foram saindo e deixando aquela mulher sozinha na companhia de Jesus (Jo 8,8). Com um simples ato e com uma simples frase Jesus continuou fiel à sua pregação e salvou a vida daquela mulher. Que discernimento perfeito.

Discernimento é isso: é fazer uma apreciação, julgar e decidir uma situação com os olhos da razão e, sobretudo, da fé. O cristão, ao fazer uso do dom do discernimento dos espíritos, está colocando o seu pensamento para ser guiado pelo horizonte maior e sublime da fé. Agindo desta forma, os seus passos estarão firmados na rocha que é Jesus e as decisões que tiver que tomar darão sempre bons frutos.

No entanto, para melhor compreender esta passagem do evangelho acima citada, peço que retomemos o começo do capítulo 8 do evangelho de São João. Dois fatos são significativos.

O primeiro deles é que Jesus havia ido ao monte das oliveiras (Jo 8,1). O monte das oliveiras era um dos lugares preferidos de Jesus para a oração. Lá Ele encontrava um espaço propício para uma conversa pessoal e profunda com o Pai. Foi o lugar escolhido pelo Senhor para, diante da grande dor de sua vida terrena, pedir ao Pai que lhe ajudasse (Lc 22,39).

O segundo, e não menos importante, é que no exato momento que trouxeram à mulher até Jesus Ele estava ensinando (Jo 8,2). Cheio do Espírito Santo, e como de costume, Jesus estava ensinando, falando ao povo a respeito das maravilhas do Reino de Deus. Foi no momento do ensinamento que Jesus foi exigido a agir.

São estes dois pilares (oração e ensinamento) que devem sustentar o nosso discernimento cristão. Aprendendo com o Mestre, esse é o caminho que devemos trilhar, pois estas situações ocorrem também conosco. Em nossas pregações e formações, bem como nos nossos acompanhamentos personalizados somos exigidos, por circunstâncias extremamente variadas, a tomar uma posição, a orientar de acordo com os ensinamentos de Cristo e da Igreja. E, seguindo os passos de Jesus, temos que ter as palavras e atitudes certas para os momentos certos.

No próximo texto entraremos mais detalhadamente na realidade de discernimento na caminhada DJC.

Graça e Paz!

Francisco Edmar
Ministro Geral de Desen. Integral