É preciso muito discernimento e postura crítica diante de tudo!



“Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito” (Rm 12,2)


Sem sombra de dúvidas somos fruto do meio onde vivemos.


Ou seja, somos fruto daquilo que escutamos, vemos e sentimos. Tudo aquilo que está ao nosso redor é responsável pela nossa formação individual.

Neste sentido, a educação coletiva, repassada pela sociedade como um todo, tem grande repercussão em nosso modo de vida. Em outras palavras, nós, apesar de sermos únicos e capazes de refletir sobre a nossa própria conduta, em maior ou menor grau, somos condicionados pelos lugares que freqüentamos na sociedade, pelas conversas que travamos, pelas músicas que ouvimos, os filmes que assistimos e etc. Nada disso, por mais insignificante que seja, escapa à nossa formação pessoal. Não que isso possua caráter determinante, mas assume papel preponderante.

Se não vejamos: se uma criança qualquer fosse arrancada do seu convívio social antes mesmo de aprender a falar e colocada num local distante e, depois de certo tempo sem escutar nenhum tipo de som da voz humana, fosse trazida de volta à sua casa, ela não saberia falar e nem sequer emitir nenhum som, pois não teve oportunidade de aprender.

Outro exemplo: existem pessoas surdas que não são mudas. Estas não apresentam nenhum problema nas cordas vocais e nem mesmo na língua. Mas por que não conseguem falar? Simplesmente porque nunca escutaram alguém e falar e, por conseqüência, não aprenderam, através dos sons emitidos pelos outros, a falar também.

Terceiro exemplo: quando uma criança nasce, com toda a sua pureza, não se pode dizer que ela vai ser isso ou aquilo. É impossível, pois não existe predestinação. Ela vai ser fruto do ambiente onde for colocada, seja familiar, religioso, escolar ou social. Se ela for criada em um ambiente onde reina a paz e a concórdia, onde Deus assume papel principal, ela terá mais chance de ser um adulto de valores e responsabilidade. Caso contrário, se ela for criada num ambiente extremamente pesado, com bebedeiras, brigas, uso de drogas e etc. ela terá mais chance de ser um alcoólatra, um drogado ou um marginal.

Claro que em todos os casos pode ocorrer o contrário, mas isso fica na esfera na exceção. Via de regra, a pessoa educada num caminho, seja ele bom ou ruim, tende a segui-lo. Não existe determinismo, mas o espaço para flexibilidades é sensivelmente diminuído. A pessoa, por ajuda dos outros, sua própria força de vontade e auxílio divino, poderá fazer o caminho de volta, mas não é uma tarefa tal fácil como as pessoas imaginam ser.

E é justamente por isso que devemos ter muito cuidado com aquilo que vemos, ouvimos ou com os lugares que freqüentamos ou as amizades que cultivamos. Não podemos viver dentro de uma redoma de vidro ou de uma bolha de ar, sem contato algum com a sociedade. No entanto, devemos ter muito discernimento e senso crítico para não se deixar levar pelas “miragens de felicidade” e alegria que o mundo nos oferece. Tudo isso vem embrulhado em papel de presente, mas não passa de uma bomba.

As músicas de hoje, os programas de TV e de rádio, a internet, as amizades... é tudo muito fútil. Não se trata de fazer uma leitura pessimista ou apocalíptica de tudo, mas encarar a realidade como ela é. Procedendo desta forma, será mais fácil identificar como devemos nos portar diante das situações.

A cultura de hoje, em todos os seus ramos, apresenta um conteúdo de baixo calão e ofensivo, que claramente está prestando um desserviço à sociedade e minando a fé das pessoas. Nós cristãos não viveremos trancafiados, com tampões nos ouvidos ou venda nos olhos, mas devemos adotar uma postura espiritual e crítica diante de cada situação ou seremos literalmente engolidos pela onda da bebedeira, das orgias, das músicas e programas indecentes e etc.

O mais doloroso de toda esta situação é que vemos constantemente jovens, crianças e famílias inteiras (que muitas vezes caminharam conosco) se deixando levar pela onda. Quanta destruição familiar começa nos bares, nas conversas sem sentido, na bebedeira, no adultério, nas músicas e programas de TV que permeiam o ambiente familiar e em tantas outras situações.

Se ligarmos ou rádio ou a TV acabamos escutando e vendo programas e músicas que estão preocupados apenas em produzir lucro, em detrimento de uma formação cultural, humana e religiosa vigorosa e permanente. E a cada dia a situação se torna cada vez pior. E a maior parte das pessoas não consegue notar que a violência e tantos outros males sociais brotam justamente desta atual conjuntura da atual sociedade. E, mesmo inconscientemente, continuam propalando tal modo de vida.

Se nada for feito, se os cristãos, como medo do que os outros vão pensar ou dizer, continuarem indo nesta onda, não se pode vislumbrar o futuro promissor. Pelo contrário, diante dos fatos, somos levados a perceber que a sociedade, do modo como está, caminha para o fracasso: social, cultural, político, ambiental, escolar e até mesmo religioso.

É preciso muito discernimento e postura crítica diante de tudo!

Francisco Edmar de S. Silva
MGDI