Não podemos perder a esperança na volta dos nossos irmãos



“Ele (o Messias) não quebrará a cana que já está rachada, nem apagará o pavio que está para se apagar” (Is 42,3).

A sociedade de hoje, potencializada por todas as ferramentas midiáticas, tem levado muitos de nossos irmãos a fracassarem na árdua tarefa de continuar caminhando com os “olhos fixos no Senhor”. Em outras épocas da história, esta situação também perdurava. Mas não se pode negar que nos dias atuais a luta é ainda mais desigual e desonesta.

Porém, definitivamente, não podemos perder a esperança de que um dia aquelas pessoas que fizeram parte da caminhada discipular reencontrem o “caminho de volta”, seja dentro do DJC ou em outros movimentos e ministérios na grande Igreja de Cristo.

A passagem acima, retirada do livro do profeta Isaías, e que fundamenta biblicamente este texto que agora escrevo, foi retomada pelo evangelista são Mateus (Mt 12,20). Ela mostra claramente qual foi a conduta de Jesus: acolher a todos, mesmo aqueles que haviam se afastado do caminho da salvação.

Jesus deixou isso bem claro quando contou a parábola do filho pródigo.

O filho tinha tudo na casa do pai, mas quem sabe iludido por pessoas ou situações, pediu tudo aquilo que tinha direito e foi para terras distantes gastar toda a sua parte na herança que, com muito sacrifício, o pai havia juntado durante anos.

O pai, de coração partido e passando por humilhações, teve que entregar o que o filho lhe solicitava. De fato, para a cultura da época era uma humilhação para o pai ter que entregar a herança para os filhos antes de sua morte. Mas o pai, por amor e atendendo ao pedido do filho, entregou a sua parte na herança.

Podemos supor que de posse de muito dinheiro, como estava, o filho se encheu de “alegria” e começou a pensar como iria gastar toda aquela fortuna. Em que circunstâncias e com quem iria torrar toda aquela grana. Pensou nas mulheres, nas bebedeiras, nos amigos que passaria a ter.

E fez aquilo que “o seu coração e a sua liberdade” diziam. Saiu feliz e foi gastar (daí o nome filho pródigo) toda a riqueza que o pai havia, com muita dificuldade, conquistado.

O restante da história nós já conhecemos. Ele gastou tudo o que tinha e logo depois, os amigos, as mulheres, os banquetes e as grandes festas simplesmente desapareceram. Como vento vieram e como vento foram embora. Por isso foi obrigado a viver de favor. Só comia aquilo que lhe davam. Quando a situação piorou chegou até mesmo a querer comer a comida dos porcos, mas como conta a parábola, nem isso lhe davam (Lc 15,16).

Mas um detalhe muito importante, e que nem sempre nos damos conta, é esse: “então, caindo em si, disse: ' Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome... Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então se levantou, e foi ao encontro do pai” (Lc 15,17-21).

Podemos destacar algumas coisas importantes.

Primeiro é que ele “caiu em si”. Diante daquela situação humilhante começou a ter saudades da casa do pai. Começou a pensar o quanto a vida lá era boa e ele nem sabia. Talvez julgava, antes da partida, que o pai era muito exigente, que tinha que trabalhar muito, dar satisfação daquilo que fazia. Resolveu ir embora e “viver a vida”. Mas, num determinado momento, em seus pensamentos, caiu em si e decidiu voltar para a casa do pai.

Segundo é que ele decidiu “vou me levantar”. Não existe conversão verdadeira e permanente sem que haja um desejo sincero de mudança. Esse “vou me levantar” significa tomar a coragem de reconhecer o erro e de quere consertá-lo. E logo depois, esta passagem é fechada com a exclamação “então se levantou e foi”. Ela passa uma idéia de pressa. O filho tinha pressa. Ele não ficou apenas perdido em seus pensamentos, importantes no inicio, mas colocou em prática aquilo que tinha pensado.

O terceiro são as palavras do filho para com o pai. Elas demonstram um arrependimento profundo. E ele foi pedir perdão justamente àquela pessoa que deveria pedir: ao seu pai. O arrependimento é fundamental. E isso se externa com palavras e com ações. Foi isso que ele fez.

Em quarto lugar, na continuação do evangelho, sabemos que o pai o recebeu de braços abertos. E mais do que isso: ao avistá-lo o pai teve compaixão dele, saiu ao seu encontro de braços abertos e o acolheu. Outra vez o pai se humilha. Para os judeus da época jamais um pai poderia sair ao encontro dos filhos, quanto mais na situação acima descrita. Porém, o pai esqueceu-se de tudo e lembrou apenas do amor para com o filho. Foi ao seu encontro e o acolheu. Depois mandou fazer uma grande festa para recepcionar o filho que “estava perdido e foi encontrado”. E depois foi conversar com o filho mais velho, bem mais presente, da necessidade e receber o filho mais novo.

Por isso, rezemos sempre numa oração de intercessão por todos aqueles que caminharam conosco, mas que, por uma série de motivos, desanimaram na caminhada. E devemos fazer isso não com um sentimento de pena ou dó, mas de compaixão, pois isso, sem sombra de dúvidas, é do agrado de Jesus.

E àqueles que se afastaram, lendo atentamente a parábola do filho pródigo, digo que voltem. Sem medo voltem. Sem precisar dar explicações voltem enquanto há tempo (Is 55,10).

Francisco Edmar de Sousa Silva
MGDI